quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Sussurros de papel


Douglas Brizzante

Em uma pequena cidade onde as casas pareciam sussurrar histórias com suas paredes de madeira, vivia uma idosa chamada Dona Elisa.

Em sua juventude, ela tinha sido a melhor escritora de cartas do lugar, conhecida por sua letra elegante e palavras que dançavam no papel como folhas ao vento.

Todas as tardes, Dona Elisa sentava-se em sua cadeira de balanço favorita, em frente à janela que dava para o jardim, e tirava sua caneta e tinteiro.

Ao lado dele, havia sempre um monte de papel com bordas douradas, pronto para ganhar vida.

Mas já não escrevia cartas; em vez disso, lia as que tinha guardado durante anos, cartas de amor, amizade e sonhos compartilhados.

Um dia, sua neta Sofia encontrou-a imersa na leitura de uma carta amarelada. “O que está fazendo, avó? ” perguntou a pequena, curiosamente.

Dona Elisa sorriu e, com um olhar cheio de saudade, disse-lhe: "Estou visitando velhos amigos e tempos passados através destas cartas."

Sofia chegou perto e juntas começaram a ler.

Cada carta era uma janela para um mundo esquecido, onde as palavras demoravam dias a chegar e cada frase estava impregnada de emoção e cuidado.

A menina ficou fascinada com as histórias de amizades eternas e amores que desafiavam a distância.

“Vovó, por que você não escreve mais?" perguntou Sofia.

Dona Elisa suspirou e acariciou uma carta. "As pessoas não tiram mais tempo para escrever como antes. Agora tudo é instantâneo e fugaz."

Nessa noite, Sofia pegou uma folha de papel e, com a melhor imitação da caligrafia da sua avó, escreveu uma carta para Dona Elisa.

No dia seguinte, deixou-a na caixa de correio da casa.

Quando Dona Elisa a encontrou, seus olhos brilharam com lágrimas de alegria.

A carta de Sofia dizia: "Para que você nunca esqueça que suas cartas ainda podem viajar, não apenas pelo tempo, mas também pelo coração."

Desde aquele dia, Dona Elisa voltou a escrever, ensinando a Sofia a arte perdida das cartas no papel.

Juntas, reviveram a magia das palavras escritas à mão, conectando o passado ao presente, uma letra de cada vez.


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