quinta-feira, 8 de maio de 2014

Carlos Romero - O Cotidiano Muito Humano




um conto-uma crônica

Paulo Coelho, homem viajadíssimo, fez este aviso aos turistas: "Não visitem museus". Eu diria apenas, visitem, mas sem exagero, pois numa cidade grande a gente tem muito o que aprender.Para mim, o que mais me chama a atenção nas viagens que faço é este cotidiano muito humano. Gosto de observar as pessoas e fazer minhas reflexões. É um espetáculo que me comove e muito me ensina. Creio que poucas pessoas observam esse cotidiano muito humano, cada qual com o seu comportamento, que passa desapercebido pela maioria dos turistas.

É preciso olhar as pessoas, discretamente, é claro. E um lugar bom para isso é o metrô. Hás os que fazem questão de não ver, não olhar e nem falar com ninguém. Mas, há aquela moça que dá o seu lugar a uma pessoa idosa, segura a porta quando passa, dá bom dia no elevador. E o faz sorrindo. Há os que escondem seus olhos nas páginas de um livro, ou tapa os ouvidos com o fone de seu iPod. Também não falta aquele que faz que está dormindo, pra não ser incomodado.

Três coisas que nos permitem observar o cotidiano muito humano: o restaurante, o hotel, e a rua. Um bom sociólogo teria aí muito material para estudo.

Ah, as refeições matinais dos hotéis! Como é gostoso observar o comportamento das pessoas... Cada um carregando o seu pratinho no buffet self-service.  

E ainda no hotel, com seus corredores imensos, acarpetados e silenciosos, que tal cumprimentar as camareiras todas uniformizadas e caladas, a quem devemos saudar e, se possível, deixar sempre um envelope com uma gorjetinha para elas.

E o que dizer daqueles músicos, com um pratinho aos pés, tocando um instrumento e alegrando as ruas, aguardando uma moeda?...

A verdade, como ensinava um filósofo grego, é que o homem é a medida de todas as coisas. Já o mestre Teilhard de Chardin se preocupava muito com o chamado "fenômeno humano".

E Jesus também gostava muito de observar as pessoas. Um olhar cheio de compaixão. E nesse olhar, Ele notou que a  multidão estava faminta. Daí a multiplicação dos peixes e pães. Ah, a responsabilidade do nosso olhar... Não adianta fingir que não viu.

E o que é que nos torna humanos? A resposta quem dá é o sociólogo Donald Pierson: é " assumir o papel dos outros, ou melhor, se colocar no lugar dos outros. Só os animais irracionais passam pelos outros indiferentes, guardadas as exceções.

Carlos Romero é membro da Academia Paraibana de Letras.

Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 08/042013.
Opinião.

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