No Dia Mundial da Fotografia, W.J.Solha Faz Leituras Sobre Imagens Capturadas Por Antonio David.
Há 173 anos (ou seja, em 1839),a fotografia foi apresentada pelo físico François Arago na Academia de Ciências e Artes de Paris. Resultado de uma técnica desenvolvida por Louis Daguerre, a nova técnica se tornou um grande assunto na capital francesa - e não é para menos. A cristalização de uma imagem humana fiel só poderia ser um tipo de magia. Os artistas é que, depois, passariam a evocar a magia da fotografia. O escritor W.J.Solha procura essa magia nas fotos de Antonio David, nos textos desta página.
O fotógrafo vai passando na praça, vê que uma funcionária da prefeitura apoia uma escada na bigorna sustentada com esforço pelos dois hercúleos homens seminus ante a estátua da Fama Alada, no monumento a João Pessoa, saca a câmera e se move um pouco à esquerda, para o ângulo em que não se veja a bigorna e se passe a ter a impressão de que o esforço dos gigantes de bronze é pra aguentar a mulher na escada, que se põe a lavar a cabeça da figura feminina. Antônio David, ansioso, clica.
No meio da viagem, uma casa de taipa - na caatinga - com o esqueleto de pau exposto, antena de TV na cumeeira e, junto à cerca, a parabólica. Clica.
Vê a esmoler dormindo recostada na parede, na calçada, o menino deitado no chão, com cabeça numa das pernas da mãe, os dois ao lado de uma sacola branca, onde se vê a foto da mão que deposita uma moeda no cofrinho de lata, junto à inscrição Caderneta de Poupança PRÓPRIA. Clica.
Há na parede enorme foto de mão que solta a pomba branca, que decola para a direita. Diante do pôster, um pouco abaixo, sentado, voltado para a esquerda, Dom Hélder fala, fala, de repente ergue o braço e aponta para cima, armando-se um jogo visual com o voo da paz para o outro lado. Clica.
Vistas de cima, no pátio do estacionamento enorme, oito carretas paradas, uma ao lado da outra, guardando boa distância entre si. Aí o fotógrafo vê um pouco acima e à esquerda, no visor da câmera, gigantescos automóveis parando ante a faixa de pedestres, reduzindo os enormes caminhões a oito caminhõezinhos artesanais, de brinquedo, à venda na curva da calçada. Clica.
O viajante que se vai na calçada da rodoviária olha pra trás, para o fotógrafo, desconfiado mas não muito, pequeno rasgão no ombro do paletó, grande rasgão na velha mala. David recua um passo para a esquerda no que o homem vai passar ante o carrinho da Maguary, de modo que vê sumir na quina da parede o início da frase promocional que fica "esqueça seu sorvete". Clica.
O homem passa na rua, puxando a carroça entupida de papelões. David percebe algo estranho após o conjunto e o segue com os olhos. Bingo: saca a câmera e clica: confortavelmente instalado atrás da carga, , o garoto, filho do homem, segura um cordão em cuja extremidade, no asfalto, segue seu bonito tratorzinho.
A mulher descalça e mal vestida - que lembra Elza Soares - está sentada no chão do terreiro e recostada na parede de pau-a-pique. De repente seus dois pequenos filhos nus a abraçam, e ela, com enorme afeto, com cada mão cobrindo uma cabecinha, atrai-os pro peito. Clica.
Por W.J.Solha
Fotos: Antônio David
Publicado no jornal Correio da Paraíba
Caderno Cultura
19 de agosto de 2012.
Página C4.
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