Por mais tristes e chocantes que sejam as notícias de que tomamos conhecimento pelos jornais da noite passada, ou durante o dia através da instantaneidade midiática, um novo amanhecer é invariavelmente um show de esperança.
É a vida que parece recomeçar nas coisas que, aos poucos, recebem de volta, pela manhã, as cores que a noite lhe tira. os bem-te-vis que passam cantando na janela, o rugir dos pneus no asfalto lembrando-nos que a engrenagem do progresso já retoma o seu ritmo frenético, e todo esse conjunto que emerge da tranquilidade noturna, do sono e dos sonhos são sempre uma mensagem de esperança.
Há quem diga que o mundo se deteriorou, que tempo bom era o de outrora, que a vida moderna está cada vez mais violenta e estressante, que os governantes e políticos não merecem mais confiança, que o Brasil nasceu errado e não tem mais jeito.
Há quem diga que a culpa é da má gestão, da falta de educação, do modelo social injusto e desigual, e um monte de outras razões cheias de razões. E não há como negar a degeneração dos costumes, da vida dantes tranquila e sem poluição, da eloquência e da riqueza artística das grandes obras de arte, do nível da musica e da dança que encantavam o mundo com poesia e delicadeza.
Tudo isso é evidente e justifica o desespero e as consequências ora experimentadas pela humanidade, traduzidas em crises econômicas, estresse, escassez de recursos naturais, acúmulo de lixo, poluição, congestionamento e um iminente colapso nas cidades que crescem sem controle, sob um modelo genericamente equivocado. Sobretudo a reação que se vê na Natureza, que grita sufocada pelo progresso urbano, e nas manifestações populares que ora surpreenderam o nosso País. Manifestações que se misturam à efervescência exacerbada dos viscerais sentimentos futebolísticos, contrapondo-se aos de revolta diante da progressiva injustiça e desigualdade social.
Entretanto, mesmo à frente de evidências tão desoladores, o Sol continua renascendo incandescente, as flores brotando, a chuva abençoando a terra, o vento que vai e vem, nuvens que dançam no céu e o mar que continua a brilhar, a cada crepúsculo. Como se o Criador de todas as coisas quisesse nos dizer: "Calma. Tudo isso faz parte, não percam a fé"!
Germano Romero é arquiteto e bacharel em Música.
Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 23/05/2014
Opinião.
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