quinta-feira, 23 de junho de 2022

Morador de rua doente recusa ir a abrigo para não deixar seu cachorro sozinho


21 de fevereiro de 2022 
Por Amaury Almeida Costa

Este sem teto está doente, mas não quis ir para o abrigo e deixar o cachorro sozinho na rua.

Esta história aconteceu em Portugal, mas diversos elementos podem ser encontrados no Brasil e em outros lugares do mundo. Luís Pereira nasceu em Sintra, uma vila portuguesa que integra a região metropolitana de Lisboa, e acabou se tornando um morador de rua.

Doente, ele foi abordado por uma equipe da promoção social, que o convidou para permanecer em um abrigo. Para aceitar o convite, no entanto, Luís teria de deixar o fiel companheiro sozinho e, por isso, ele se recusou, para não abandonar o cachorro na rua.Uma história bem conhecida

De acordo com os relatos do próprio morador de rua, ele nasceu em Sintra e foi abandonado quando tinha apenas quatro anos. Ele não sabe precisar os motivos que fizeram a família abrir mão da sua guarda.

Um pouco mais tarde, Luís chegou a ser adotado. No início da adolescência, no entanto, ele se envolveu com drogas ilícitas e tornou-se dependente. Mais uma vez, ele experimentou o abandono: a mãe adotiva o expulsou de casa.


Nas ruas, mendigando ou executando pequenas tarefas, o sem teto conseguia o suficiente para alimentar-se e comprar as drogas a que se tornara adicto. Nestes caminhos da vida, ele conheceu Kika – a cachorra tinha cerca de dois anos quando começou a acompanhar o morador de rua.

Kika é a melhor amiga de Luís. É ela quem proporciona os melhores momentos da vida do morador de rua, mas também traz algumas dificuldades. Luís já recebeu convites de diversos abrigos e grupos de apoio, mas estas ofertas sempre trazem uma condição fundamental: o morador de rua teria de deixar Kika para trás.

Luís sabe o significado da traição e do abandono. Quaisquer que tenham sido os motivos das famílias (a consanguínea e a adotiva), na memória de Luís, o fato de ter sido deixado para trás é um episódio triste e inesquecível. Ele não poderia fazer o mesmo com Kika, a melhor amiga que a vida lhe ofereceu.


Neste período da pandemia de Covid-19, a dupla sofreu ainda mais. No último verão, o volume de chuvas foi muito intenso (fato atípico em Sintra) e no inverno, o frio compromete ainda mais a saúde e o bem-estar de Luís, Kika e outros sem teto.

Por outro lado, Luís garante que a presença de Kika foi fundamental para fazê-lo amadurecer e conscientizar-se de que é preciso encontrar novas oportunidades. Na verdade, ele se sente responsável pela cachorra e isso o faz querer ser mais estável.

Luís desenvolveu alguns problemas respiratórios, tanto em função da dependência às drogas, quanto às condições de vida a que se submeteu. Mesmo assim, ele não quer deixar Kika para trás. A devoção deste sem teto à sua melhor amiga serve de exemplo para todos. Felizmente, a lealdade da cachorra é um alento para os dias sombrios e talvez sirva de antídoto para as dores e doenças.

Cachorros e abrigos

Esta forma de organização é comum também no Brasil. Albergues e abrigos, mantidos por órgãos governamentais ou por outras entidades, inclusive vinculadas a igrejas, não permitem a admissão de animais de estimação.

Os sem teto precisam deixá-los na rua se quiserem desfrutar uma refeição, um banho e uma cama. A maioria recusa o apoio, inclusive porque os amigos de quatro patas, além de serem importantes aliados, também agem na pouca segurança, vigiando pertences, carrinhos, etc.


Outra condição de ingresso é que os moradores de rua deixem as carroças longe dos abrigos. No entanto, boa parte dos sem teto ganha um pouco de dinheiro recolhendo material reciclável – e as carroças são fundamentais.

Em algumas cidades brasileiras, algumas entidades estão revendo as condições para admissão de albergados e abrigados. Em lugar dos grandes alojamentos, já são oferecidas pequenas acomodações, em que os assistidos podem guardar os seus pertences e, se for o caso, alojar cães e gatos.

Esta nova maneira de abordar o problema tem surtido bons resultados. Os abrigos que oferecem os cubículos (alguns têm menos de três metros quadrados) mantêm uma população de abrigados mais constante.

Como eles têm uma referência – uma espécie de “endereço” – é possível atacar outros problemas urgentes, como a documentação, capacitação profissional, etc. O importante, na promoção social, é construir um novo olhar, que beneficie os sem teto humanos, caninos, felinos, etc. Ninguém merece morar na rua.

Caesonline

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