Meus pais pediam insistentemente, para eu levá-los de volta para casa.
Papai nunca saiu de sua casa, mas a casa saiu dele.
Mamãe morava comigo, mas nunca saiu daquela casa, que ela sonhava retornar.
Aos poucos eu fui entendendo o que significava “voltar para casa”.
Eles querem resgatar a casa que um dia abrigou Felicidade, na verdade eles queriam voltar para aquela Felicidade.
Não era a casa de tijolos e portas, janelas e piso rangendo.
Era a casa que abrigava o barulho das crianças brincando,
o cheiro de café e o gosto de bolo de fubá;
o perfume do travesseiro que guardava seus segredos;
o cheiro do bife que só mamãe sabia preparar;
o perfume do dia de limpeza e o cheiro da pipoca.
A casa era a maçaneta da porta rangendo, quando papai voltava do trabalho;
ou o pano de chão sobre o tapete, que mamãe insistia em colocar para manter o tapete limpo.
A casa para onde eles querem voltar é feita dos detalhes da torneira pingando, que papai adorava consertar;
do batente arranhado pelas escaladas das crianças inquietas;
é a casa que abrigou o sonho de família, de felicidade, de prosperidade;
a casa paga em muitas prestações, e cada uma delas tinha um gosto de vitória…
Eles querem morar naquela felicidade, e eu também."
Míriam Morata – autora de Alzheimer diário do esquecimento, Alzheimer recolhendo os pedaços e Alzheimer Assombro e Cura do Cuidador.
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