Dedico a mim mesma o que me resta da vida, não sei se será muito ou pouco, mas quero me dar presentes caros como é a fidelidade a mim mesma sem permitir que ninguém corrompa a tranquilidade que minhas escolhas me deixam.
Quero me dar o prazer de passar por uma vitraleira, ver que me sinto bem os anos com os quais reneguei, por que cada um deixou em mim olheiras escuras causadas pelo desvelo que ninguém nunca soube e sozinha transite procurando o porquê de tantas coisas que ao final tinham que acontecer porque sim... E aprendi de tudo.
Dedico a mim mesmo as músicas que me fizeram lembrar de alguém, mas agora não choro as ausências nem há aquela fila longa de arrependimentos por não saber se ia ganhar ou perder.
Eu me dou permissão para abrir uma garrafa de vinho sem motivo para brindar porque às vezes eu só preciso da minha própria companhia.
Olhar pra mim, dizer pra mim que vou ficar bem e que nada é pra sempre porque estamos de passagem e tudo é aceitável, menos me deixar pra depois.
Quero me dar flores, por que em algum momento não soube contemplá-las e desfazê-las esperando que a última pétala me diga que me amavam quando os que tinham que fazê-lo morreram em silêncio e eu sem nenhuma flor.
É por isso que quero dedicar-me o resto da vida.
Andar pelas ruas sem esperar, encontrar alguém do meu passado e me perguntar porque não está no meu presente.
Tomar um café onde tive que ir para não cruzar com pessoas que diziam ser eternas para mim e se revelou eterno o esquecimento que deixaram sem saber o quão quebrada tinha ficado quando as portas do meu coração estavam abertas e seus braços fechados para minha tristeza ou sucesso se algum dia aconteceria.
Quero me entregar a chave da felicidade que ganhei quando perdi meus medos.
Pendurar novos quadros naquela parede onde me encostei todos os dias com as suas noites vendo fotos que me deixavam à beira da solidão e feridas em carne viva porque sentir saudades era para os fracos e superar era para os corajosos e tive que aprender a ser.
Então eu dei um passo, e depois outro, e assim consegui chegar ao espelho mais próximo, e foi aí que eu me vi depois de muito tempo.
Olhei para mim, falei para mim como quem fala com uma amiga que já passou demais e disse para mim mesmo...
O que você vai fazer para o resto da sua vida?
Viver ela, no final é minha vida e não se repetirá duas vezes.
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