segunda-feira, 9 de junho de 2025

A raposa e o poço seco









Raquel Ferreira


No coração de uma floresta antiga, onde as árvores contavam histórias com o farfalhar das folhas, havia um velho poço — seco, esquecido, sem nenhuma serventia. Os animais passavam por ele sem dar atenção. Era apenas um buraco triste no chão, um resto do que um dia foi fonte.

A única que ainda se aproximava do poço era uma raposa. Toda manhã, ela parava diante da borda, olhava lá dentro e dizia:

— Obrigada por ter me salvado naquele verão de fogo.

Os outros animais zombavam.

— Falar com um poço seco? — ria o gambá.

— A gratidão dela deve ter evaporado junto com a água — cochichava a coruja.

Mas a raposa não se importava. Porque só ela sabia o que aquele poço significava.

Anos antes, quando a floresta queimava e a sede quase enlouquecia as feras, aquele poço fora sua salvação. Escondida ali, ela encontrara as últimas gotas de água e um abrigo fresco. Viveu, porque ele existia.
Agora, mesmo vazio, ela o honrava. Não pelo que ele era hoje, mas pelo que ele fora quando ela mais precisou.

O tempo passou. Um dia, nuvens carregadas tomaram o céu. Choveu por semanas. E quando o sol voltou, o poço estava novamente cheio. Os animais correram até lá, sedentos. Mas o poço, misteriosamente, parecia dar água apenas para quem se aproximava com o coração leve.

A raposa bebia em paz. Os zombadores, não.

E foi aí que entenderam:

O poço não lembrava quem o esqueceu quando secou.
Mas nunca se esqueceu de quem o agradeceu mesmo vazio.


Moral da história:
Gratidão verdadeira não se dá pelo que recebemos no presente, mas pelo que nos foi dado quando mais precisávamos. E a vida, como o velho poço, reconhece quem nunca esqueceu de agradecer.


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