segunda-feira, 9 de junho de 2025

O corvo, a raposa e o eco do silêncio





Raquel Ferreira


Numa floresta onde as árvores sussurravam segredos e o vento carregava histórias, vivia um corvo chamado Nero. Nero era conhecido por seu canto belo e estridente, que enchia o ar de melodias, mas também por sua vaidade — adorava ouvir o próprio som, achava que era o melhor cantor da floresta.

Um dia, Nero encontrou uma raposa astuta chamada Lira, que observava silenciosa, com olhos de quem já sabia tudo sobre jogo de poder e palavra.

“Ei, corvo, que tal um desafio?”, disse Lira, com um sorriso que mais parecia armadilha. “Você canta, eu escuto, e depois eu canto, e você escuta. Quem for mais admirado pelos outros, ganha.”

Nero, cheio de si, topou na hora. Subiu ao galho mais alto e começou a entoar seu canto mais alto e longo. A floresta ouviu, as folhas pararam, os animais silenciaram. Mas algo estranho aconteceu — ao final, tudo que Nero ouviu foi um eco vazio, repetindo só suas próprias notas, sem aplausos, sem reconhecimento.

Lira, calma, caminhou até o centro da clareira e contou uma história simples, com palavras que falavam direto ao coração. Não cantou, não gritou, apenas falou. E, enquanto falava, um silêncio profundo tomou conta. A floresta não respondeu com eco, mas com atenção verdadeira. As folhas balançaram devagar, os animais aproximaram-se — não pelo som, mas pelo sentido.
Nero entendeu, enfim, que não adianta gritar sozinho no vazio, esperando aplausos que nunca chegam.

 Que o verdadeiro poder está em falar para ser ouvido, não para se ouvir. E que às vezes o silêncio é o maior dos ouvintes.
A raposa sorriu e disse: “Você pode até ter o canto mais alto, mas só quem escuta o silêncio conhece o valor da palavra.”
E assim, Nero aprendeu que a vaidade cega o coração, mas a humildade abre portas que o eco jamais vai alcançar.


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