um conto-uma crônica
É inegável que o alheio aguça o dia-a-dia do ser humano. Parece que o homem conduz no seu pensamento a idéia de que é mais fácil olhar para a vida do vizinho, mesmo que isso implique em não enxergar a sua.
É impressionante como existem fofoqueiros de plantão, pessoas que vivem e se alimentam do falar da vida alheia. Nas cidades interioranas essas pessoas são mais facilmente identificadas. Elas vivem nas calçadas, praças, velórios e infiltradas nas casa dos vizinhos, bisbilhotando e filmando literalmente todas as cenas da cidade,para, ato contínuo, dar a sua versão, inclusive aumentando ou distorcendo cada fato visualizado e guardado no seu baú de fofoca.
Nas grandes cidades esses seres também são identificados sem maiores dificuldades, pois habitam, por exemplo, dentre outros, os ambientes de trabalho e escolar, como também as rodas dos bares e restaurantes. Existem, tanto no interior, como nas grandes metrópoles, lugares certos para onde as pessoas acorrem para bater papo e colocar em dia as novidades, ou seja, as fofocas. São locais conhecidos na liguagem popular como o termômetro da vida alheia.
Nos grandes centros, há também aqueles que entram nos coletivos, justamente na hora de pique, só para jogar no ar uma mentira das grandes, isto na certeza de que ela se espalhará por toda a cidade, pois na medida em que os outros passageiros vão tomando seus destinos, o boato vai se multiplicando e provocando seus efeitos deletérios.
Mas se o mundo evoluiu, o cuidar da vida alheia também acompalhou esses avanços. É só olharmos na grade da TV que logo percebemos diversos programas focados no acompanhar passo a passo da vida dos famosos, e o que mais estarrece nessa conduta aética e antisocial é a indiferença de seus responsáveis pelos danos morais e existenciais causados às vítimas de suas intrigas. Não podemos esquecer que esse ramo já chegou a internet através de sites e blogs especializados.
Registre-se que há pessoas que são tão viciadas em falar da vida alheia que chegam a receber pseudônimos interessantes como : o língua de aço, o boca maldita, o boca de praga e por aí vai..
É por isso, que se diz que quem disso cuida, sem dúvida, carrega no seu íntimo a inveja, sentimento pobre, antagônico à felicidade e que representa a dor da incapacidade de aceitar a glória do seu semelhante. É na essência um perseguidor, mas neste ponto devemos lembrar o grande Chico Xavier, quando ensina:" Quem é perseguido, muitas vezes ainda consegue ir adiante, principalmente se estiver sendo perseguido de maneira injusta, mas quem persegue não sai do lugar."
Se para Fernando Pessoa o homem é do tamanho do seu sonho, podemos afirmar, infelizmente, que ele também é e poderá ter a dimensão insignificante de sua inveja.
Onaldo Queiroga
Escritor e Juiz de Direito.Publicada no Jornal Correio da Paraíba.
Coluna: Opinião
Edição de sábado.
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Onaldo Queiroga - A Vida Alheia
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