segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Nelson Coelho - Duas Histórias Alegres Do Povo Pessoense

a paraíba e sua história
Esquina do Pecado

A " Esquina do Pecado" localizava-se na calçada do Edifício Nações Unidas, na Praça Vidal de Negreiros, à direita da Rua Padre Meira. Era ponto obrigatório de encontro das colegiais que estudavam nos colégios Nossa Senhora das Neves, Nossa Senhora de Lourdes, Academia de Comércio , Getúlio Vargas, o Liceu Paraibano e no Lins de Vasconcelos. Entre onze e doze horas da manhã e entre dezessete e dezoito horas, as colegiais fardadas vinham para aquele local. Dali, elas tomavam as marinetes para suas respectivas residências. As de maiores posses, tomavam, ainda no pátio dos colégios, os ônibus que serviam para ir buscá-las e levá-las às suas casas.

A galera de marmanjos se reunia em frente à Casa Cruz, uma sapataria de propriedade do Deputado Inácio José Feitosa, situada no térreo do Paraíba Palace Hotel, do lado da Praça 1817, donde trocavam acenos com as meninas do outro lado da rua . Era hora dos flertes e dos namoros também, muito embora o namoro se resumisse ao casal tomar a marinete, lotação, e seguir até as imediações da residência da donzela. A geração de estudantes que frequentavam estes dois locais, meninas e meninos , é hoje sessentona, avôs e avós.Foram inúmeros casamentos que ocorreram entre aqueles jovens. Foram muitas desilusões; entretanto, é possível que se avalie mais felicidade que infelicidade entre aqueles jovens, cuja alegria era esfuziante.

Chamav-se "a Esquina do Pecado", porque, da lagoa, no Parque Solon de Lucena, soprava um vento fortíssimo que levantava as saias das jovens que não se preveniam. Em cada ventania, uma ou duas garotas, por força do vento, protagonizavam "lances" ousados, apesar de involuntários. Por isso é que a calçada do Edifício Nações Unidas foi assim batizada. Era angustiante para os marmanjos ver, de longe, tão belíssimo cenário. De longe! Uma aproximação, nem pensar!


A Voz do Além


Os estudantes de vários colégios, nas cercanias do "Ponto de Cem Réis", tanto ao meio-dia quanto às dezoito horas, chegavam aos montes no logradouro. A algazarra era tremenda. De tudo, esta juventude sadia e alegre fazia um pouco. Insultavam doidos, buliam com os "biriteiros" e passavam caranha nos vendedores de picolés. Mexiam com quem passasse à frente deles. Não se pode dizer, com precisão, como surgiu a brincadeira que consistia em chamar pelo nome um transeunte qualquer e se esconder, não ensejando que a pessoa chamada, ao se voltar, identificasse quem o havia chamado. Era uma inocente traquinagem dos estudantes, entretanto constrangedora para a pessoa que se via chamada insistentemente e não avistasse a pessoa que o chamara.

Essa brincadeira foi logo batizada de a" Voz do Além". O batismo veio para ficar. Dentre as pessoas que foram vítimas dessa brincadeira, gostaria de, nesta oportunidade, nominar o jogador de futebol Zagallo, campeão do mundo, que veio a João Pessoa, em 1958, com o Botafogo da Paraíba. Ele saiu do Paraíba Pálace Hotel, dobrou à esquerda e seguiu em frente pela Rua Duque de Caxias, em direção da Praça João Pessoa.Então, surgiram, na sua retaguarda, os estudantes Pedro Amâncio de Lima Neto, João Bosco Marinho da Nóbrega e Dole Van Shostein. Um de cada vez chamava: "Zagallo, espere aí"; Zagallo se voltava e não via ninguém. Seguia o seu caminho. Novamente, uma voz o chamava. E, mais uma vez, ele não divisava quem o tinha chamado pelo nome. A brincadeira com o campeão do mundo foi até a Praça João Pessoa.


Nelson Coelho
Defensor público, jornalista, escritor e historiador.

Publicado no livro de sua autoria Esquina do Tempo.

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