terça-feira, 1 de março de 2011

Paulo Coelho - Histórias Sobre As Histórias Da Bíblia



um conto - uma crônica


A Outra Mulher

Eva passeava pelo Jardim do Éden, quando a serpente lhe ofereceu a maçã. Eva, muito bem instruída por Deus, recusou.

"Coma esta maçã", insistiu a serpente, " porque você precisa ficar mais bela para o seu homem".

"Não preciso. Ele não tem outra mulher além de mim".

A serpente riu: "Claro que tem".

E como Eva não acreditava, levou-a até um poço.

"Ela está dentro desta caverna; Adão escondeu-a ali".

Eva debruçou-se e viu, refletida na água, uma linda mulher. Na mesma hora, sem titubear, comeu a maçã que a serpente lhe oferecia.
Depois do Dilúvio

No final dos quarentas dias de dilúvio, Noé saiu da arca. Desceu cheio de esperança, mas o que encontrou do lado de fora foi apenas a destruição e a morte.

Noé reclamou:

"Deus Todo Poderoso, se Tu conhecias o futuro, por que criastes o homem? Só para ter o pazer de castigá-lo?"

Um perfume triplo subiu até os céus: o incenso, o perfume das lágrimas de Noé, e o aroma de suas ações. Então Deus respondeu:

"As preces de um homem justo sempre são ouvidas. Vou te dizer porque fiz isto: para que entendesses tua obra. Tu e teus descendentes estarão sempre reconstruindo um mundo que veio do nada - e desta maneira dividiremos o trabalho e as consequências. Agora somos todos responsáveis".
Na Busca da Verdade

O demônio conversava com seus amigos, quando notaram um homem que se abaixava para pegar algo no chão.

- Ele encontrou uum pedaço da Verdade - disse o demônio.

Os amigos ficaram preocupadíssimos. Um pedaço da Verdade poderia salvar a alma daquele homem - e seria menos um no Inferno. Mas o demônio continuava imperturbável, olhando a paisagem.

- Não se preocupem. Sabe o que ele fará com este pedaço? Como sempre, vai criar uma nova seita. E conseguirá afastar da Verdade total.
Na Estrada de Damasco

Um peregrino caminhava pela estrada de Damasco, quando um homem a cavalo passou por ele, e quase o atropelou. Assustado, percebeu que o cavaleiro tinha a expressão malvada, e as mãos cheias de sangue.

Minutos depois, um outro cavaleiro aproximou-se a todo galope; o peregrino pode reconhecer Paulo de Tarso, cidadão romano, apóstolo de um movimento religioso chamado Cristianismo.

-Você viu um cavaleiro por aqui? - perguntou Paulo de Tarso. - É um malfeitor. Preciso alcançá-lo.

- Para que? Para entregá-lo a justiça?

- Não. Para ensinar-lhe o caminho.

Paulo Coelho
Escritor e letrista.

Publicada no Jornal Correio da Paraíba.
Caderno Milenium.

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