A Escritora gaúcha Martha Medeiros faz sua lista de filmes de alma feminina e divide com a gente os motivos que nos levam a amar certas produções.
TAREFA: escolher dez filmes que reflitam o universo feminino e comentá-los.Uau! Vieram à minha cabeça desde Pele de Asno, com Catherine Deneuve, até A Mulher do Lado, com Fanny Ardant, sem falar em Esposamante, Shirley Valentine... Socorro! Não tendo mais idade para pedir colo pra mãe, pensei: muita calma nessa hora. Esqueça o passado. Quais foram os filmes vistos nos últimos anos que fizeram sua cabeça e que você tem condições de lembrar nitidamente das sensações provocadas? Aí ficou mais fácil.
1 - As Pontes de Madison - 1995.
As Pontes de Madison, de Clint Eastwood, é um filme sobre a morte dos desejos.
Um mulher casada, com filhos adolescentes, conhece um homem e vive com ele um romance durante quatro dias, enquanto sua família está fora. Nesses dias ela redescobre em si valores e sentimentos que haviam sido abafados por um casamento morno.
Sabemos que ninguém é100% maternal ou 100% aventureira ou 100% executiva. No entanto, muitas mulheres escolhem um único papel, anulando as outras possibilidades. Fazem isso porque não acreditam na sua capacidade de administrar muitos "eus" dentro de si, optando por dedicar-se a um só, como se ele pudesse resistir sozinho a tantos apelos externos.
Francesca, a personagem de Meryl Streep, achava que era 100% mãe até encontrar um homem que enxergou-a além do estereótipo, despertando nela outra Francesca, que gostava de dançar e desejava conhecer lugares exóticos. Cabe a ela decidir quem deve sobreviver: a dona de casa convencional ou a mulher que quer sair em busca de si mesma.
Todo dia passamos por isso, mas, se desde cedo nos acostumarmos com a presença de nossas outras personalidades, as escolhas serão feitas com menos trauma. É o que se chama amadurecimento. Dói, por isso choramos.
2 - Antes do Pôr do Sol - 2004.
O filme de Richard Linklater, que dá continuidade a Antes do Amanhecer (1995)é um blablablá ininterrupto de um casal que caminha por Paris e discute a vida e a relação.
Como não se sensibilizar com uma jovem que admite ter perdido a ilusão do amor e que passou a viver brindada, refratária a qualquer nova relação? Como não se sentir mexida quando um homem admite que casou porque todos casam, que é infeliz e que a única coisa que lhe justifica a vida é o filho de 4 anos? O que pode ser mais mirabolante, impactante, desestabilizante do que ver duas frágeis criaturas, um homem e uma mulher predestinados um ao outro, enfrentando a irrealização de seus sonhos?
O filme mostra o reencontro de um casal que não se vê há nove anos e a expectativa silenciosa de achar respostas nas poucas horas que eles têm para conversar. O papo inicial é cauteloso, até que chega a hora da explosão, dos desabafos, das acusações e do quase-choro. Tudo em razão do que deveria ter havido entre os dois e, por força das circunstâncias, não houve.
O cinema pode colocar pessoas desafiando a gravidade, cortando o pescoço uma das outras, fazendo o tempo andar para trás, e eu não me emocionarei nem ficarei perplexa, mas a realidade me arrebata.
Martha Medeiros
Jornalista, escritora e colunista
do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de
O Globo, do Rio de Janeiro.
Publicado na revista Claudia
Edição Setembro/2009.
continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário