sexta-feira, 22 de abril de 2011

10 Filmes - Para Mulheres Sobre Mulheres - Nota 10 - Continuação



3 - V olver - 2006.

A cena de abertura mostra, num cemitério, várias mulheres limpando o túmulo de seus maridos. E é só o que vemos dali por diante: mulheres. Os poucos homens não passam de meros figurantes, quase mortos-vivos. Já mulher é sempre real, comoventemente real.

Nesse filme, Pedro Almodóvar exalta o fenômeno da natureza chamado mãe. Toda mãe é um vulcão, um furacão, uma enchente, um terremoto. Invencível. Não há perda que ela não transforme em força. Não há medo que a mantenha quieta com cromossomos XX, a mulher que não é híbrida, mas é plural; que não é bem certa, mas é íntegra; e que ele homenageia de forma peculiar: colocando-a em situações-limite.

Filmando com delicadeza e explorando a solidariedade e o afeto das latinas, ele nos faz voltar - atenção, volver - à nossa natureza de leoa e à nossa corajosa humildade, que nos faz perdoar e pedir perdão para desobstruir nossos caminhos.

Mulheres vão adiante e retornam, dois passos para a frente e um para trás, as virtudes e os pecados sempre dentro da bolsa.

Eis a visão passional e parcial desse diretor puro-sangue, que é exagerada, mas instigante: os homens passam, mas as mulheres não morrem.

4 - Foi Apenas Um Sonho - 2008.

Belo casal mora numa bela casa com um belo jardim e belos filhos. O marido está adaptado à rotina, mas a mulher arrasta correntes. É uma estrangeira dentro da própria vida. Queria ser alguém especial, porém é apenas mais uma como as outras, com um destino presumível: repetir os dias. Em determinado momento, um diálogo rápido resume o estado de espírito dela. Ao se abrir com o vizinho a respeito de seu vazio inquietante, ele se mostra compreensivo: "Você queria sair, não?" Ela responde: "Eu queria entrar!"

O diretor Sam Mendes mais uma vez acerta a mão ao tratar sobre o desespero de se deixar engolir pelo caminho mais fácil: viver a vida de todo mundo.

Kate Winslet, excelente no papel da dona de casa entediada que sonha em ser atriz, inverte o lugar-comum. Vivendo um cotidiano aparentemente perfeito, ela não está dentro do jogo - está fora. Sua intuição diz que a vida acontece estando em trânsito, e não estacionada. Ela está presa do lado de fora. O comodismo a expulsou do seu paraíso imaginário.

Não há como a gente não se perguntar: e eu, estou satisfeita com a condução do meu personagem? Dá para dizer que era esse o "filme" do qual eu sonhava participar? Se a resposta for sim, estamos dentro.

Martha Medeiros
Jornalista, escritora e colunista
do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de
O Globo, do Rio de Janeiro.

Publicado na revista Claudia
Edição Setembro/2009.



continua...


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