sexta-feira, 22 de abril de 2011

10 Filmes - Para Mulheres Sobre Mulheres - Nota 10 - Continuação


5 - Vicky Cristina Barcelona - 2008.

Eu saí satisfeita do cinema, satisfação que os personagens do filme não parecem ter alcançado. Pudera: Doug que amava Vicky que amava Juan Antonio que amava Maria Elena que amava Cristina que não amava ninguém.O happy end nunca passou tão longe de uma história como em Vicky Cristina Barcelona.

Que história? Duas jovens americanas vão passar férias na Espanha. Uma delas está noiva de um homem padrão e não quer saber de aventuras: a outra está para o que der e vier, basta que surja um grupo bem-disposto. E surge: um pintor que traz na bagagem uma separação mal resolvida com uma tresloucada que resolve seduzir as duas turistas, mesmo com a ex-esposa na cola.É um salve-se quem puder.Mas não é um filme sobre desencontros. Ao contrário, é um filme sobre buscas.

Desta vez, Woody Allen se permitiu ir além de si próprio: colocou pinceladas de uma ousadia almodovariana e, se eu não andei vendo coisas, há no roteiro algo de François Truffaut também. O resultado é um filme universal, como universal tem sido a nossa insaciedade. Internet, cinema, novelas, livros, música: tudo nos conduz a pensar que a vida não tem o menor sentido se a gente não sentir prazer 25 horas por dia. E onde se esconde esse tal prazer? Se você procurá-lo num casamento, estará renunciando às alternativas. Se, ao contrário, passar em revista todo homem ou mulher que lhe der um sorriso promissor, tampouco terá garantia de encontrar o que procura. O que a gente procura? A tal festa no outro apartamento, a grama mais verde do vizinho.

Em entrevista na época do lançamento, Woody Allen declarou que, de certa forma, tinha intenção de provocar tristeza com o filme. Ainda que haja mesmo um toque melancólico, Allen é elegante e engraçado em qualquer situação, e o que ele consegue, como sempre, é apenas (apenas?) nos mostrar como é megalômano o projeto de alcançar a plenitude dos sentidos. Mas a gente não aprende e vai morrer tentando.

6 - Garotas do Calendário - 2003.

O mesmo diretor do ótimo O Barato de Grace, Nigel Cole, voltou a escolher a mulher de meia-idade como protagonista. Só que agora não é uma, são várias mulheres.

Garota do Calendário é obrigatório para quem gosta de filmes divertidos, humanos e inteligentes, sem parafernália tecnológica nem lição de moral no fim.

Baseado num fato verídico, conta a história de algumas senhoras entre 50 e 70 anos, moradoras da zona rural de Yorkshire, na Inglaterra. Para levantar fundos a fim de investir no hospital da região, elas decidem posar nuas para um calendário.

As fotos não mostram nus frontais, é tudo sugerido, porém ultrassexy, desmistificando essa história de que só há um padrão de beleza e de que só jovens se encaixam nele. Mas isso nem é o mais importante.

O filme mostra como as noções de decoro podem ser reavaliadas e nos deixa face a face com as contribuições do tempo: que ele passe, ora bolas, e tire dos nossos ombros as angústias que bobamente acumulamos.

Segundo um personagem masculino, as mulheres de Yorkshire são como as flores: é na etapa final que ficam mais gloriosas. Simpático, esse cara.

Não sei se a meia-idade é a fase mais gloriosa, mas deveria ser a mais leve. E isso não se injeta na pele, se conquista.

Martha Medeiros
Jornalista, escritora e colunista
do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de
O Globo, do Rio de Janeiro.

Publicado na revista Claudia
Edição Setembro/2009.



continua...

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