sábado, 9 de abril de 2011

Carlos Pereira - A Festa De São Pedro




um conto - uma crônica

As chamadas festas juninas, em algumas cidades, estão acabando neste domingo, indo portanto além do dia dedicado aos apóstolos Pedro e Paulo. Aproveito o resto de clima dos festejos de junho, a fumaça das fogueiras se esvaindo, os últimos foguetões a explodir para lembrar que, no meu tempo, São Pedro era bem mais homenageado do que atualmente, talvez porque o dia era feriado, e dos bons.

A grande diferença entre as festas de São João e São Pedro, no Jaguaribe da minha infância, é que nos dias de São Pedro e São Paulo (28 e 29), a gente tinha um dinheirinho pra comprar fogos. No São João, o jeito era ir para o pavilhão da Av.Conceição, ver a exibição das quadrilhas que dançavam até de madrugada, ao som do autêntico forró pé-de-serra, nada de música eletrônica, até porque nessa época o único instrumento musical mais moderno era uma sanfona Scandalli, cujo fole e teclado, o sanfoneiro manejava com maestria para animar a festa.

Pois bem, a véspera de São Pedro nos encontrava com alguns mil reis no bolso, porque invarivelmente o Governo do Estado pagava os salários do mês de junho, entre os dias 25 e 28. Os funcionários passavam na venda do meu pai e pagavam boa parte dos seus débitos, reduzindo substancialmente a coluna do "débito" na caderneta do "fiado". Tiradas as despesas com os fornecedores e provisão para a manutenção da família, ainda sobrava algum que o "velho" distribuía com parcimônia e com a recomendação de que "economizarem porque não haverá suplementação". E lá íamos nós, os irmãos da mesma faixa etária, correndo para o bazar de Seu Cosminho, que ficava na Aderbal Piragibe, pertinho da esquina da Capitão José Pessoa. O bazar tinha uma peculiaridade: é que somente funcionava como posto de venda de fogos juninos um mês antes das festas e quinze dias depois. O resto do ano, Seu Cosminho dedicava toda a sua atividade ao próspero negócio de alugar bicicletas - conforme eu já lhes disse neste mesmo espaço muitas semanas atrás.

O pacote era modesto mas vinha completo - estrelinhas, diabinhos, mijões e caixas de traque de chumbo, além das temíveis e temidas bombas chilenas. Tudo de acordo com o orçamento limitado pelo curto dinheirinho de que a gente dispunha, e com a preocupação de sobrar algum para comprar o milho assado no pavilhão da festa e, se desse, um pedaço de pé-de-moleque que só Dona Joaninha sabia fazer.

São lembranças de um tempo que passou e que deixou muitas saudades, algumas das quais - as mais especiais- ficaram definitivamente fixadas na imagem de que lhes falei semana passada das lanternas coloridas, estilo sanfona e cilindro que, logo nos primeiros dias de junho, meu pai ia buscar no armário onde elas permaneciam o ano todo, bem guardadas. E aí pelo dia 13 - véspera de Santo Antonio - ele botava as velas no lugar próprio e as ascendia pra iluminar as lanternas. Era um espetáculo inigualável aos meus olhos curiosas de menino de 8 anos, ansioso por ver aquelas lanternas balouçando, penduradas nas janelas da sala da gente, todo mundo passando pela rua parando para admirar as "lanternas mais coloridas da rua da Concórdia".

Quando chegava o dia 30, com o fim do mês de junho, com ele também acabavam os festejos juninos da cidade e do querido bairro. Aí só ficava o desejo de que o resto do ano passasse depressa, a fim de que aqueles espetáculos sem igual, voltassem a acontecer na minha rua, no meu Jaguaribe - no meu mundo, enfim.
Carlos Pereira
Jornalista, escritor, engenheiro e
professor universitário

Publicada no jornal O Norte.

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