sábado, 9 de abril de 2011

Carlos Pereira - A Festa De Reis



um conto - uma crônica


Nesta semana empreendi uma busca em vão: nos jornais, nas revistas, ouvindo as rádios e até na televisão - ninguém deu notícias da festa de Reis. Meio constrangido e até triste fiquei porque nem mesmo a igreja, sempre disposta a manter a tradição de homenagear os seus santos, deu o necessário destaque à história da estrela que guiou aqueles que foram a Belém saudar a chegada de Cristo. Até na agenda que recebi de presente os santos Reis são esquecidos, pois na página do dia 6 de janeiro o editor destacou que "Deus mais se mostra a você quando menos impurezas há em sua mente". Omitiu a festa da Epifania que eu sempre liguei diretamente aos magos do Oriente, cujos nomes, aliás, pouca gente sabe. Vou aproveitar para lembrar que eles se chamavam Gaspar, Baltazar e Melchior.

Na hora em que lavro o meu protesto, registro, por importante, que nem as estações de rádio tocaram, ao menos, aquela música "hoje é o dia dos Santos Reis", no vozeirão de Tim Maia. Passou em branco, portanto, uma que era das três maiores festas profano-religiosas do meu tempo.

Recordo, a propósito, a que ocorreu em 1954, quando o Clube Astréia mais uma vez abriu os seus majestosos salões para realizar a tradicional Festa de Reis. Naquele tempo, se dizia que embora o Cabo Branco realizasse o Carnaval mais animado da cidade, a melhor festa do ano era a Festa de Reis, do Astréia.

E, naquele ano, não foi diferente. A Orquestra Tabajara, do maestro Severino Araújo, começou a tocar exatamente às 22 horas e as primeiras músicas eram blues, boleros e sambas-canção - todos da melhor qualidade e do real agrado dos pares que rodopiavam no salão lotado.

Nas mesas que circundavam o dancing, estavam os representantes da típica sociedade paraibana, cujas bebidas preferidas eram o rum Merino e a cerveja Brahma Teutônia. Poucos tinham cacif para ostentr, em cima da mesa, um litro de uísque Cavalo Branco, importado.

Foi a primeira vez que fui a um baile noturno na minha vida. Tinha então 15 anos e, munido de autorização do Dr. Júlio Riqu, Juiz de Menores, pela mão de Tio Otávio, Diretor do Astréia, ali estava deslumbrado e meio com medo. A roupa nova que consegui a muito custo e o sapato preto de verniz que me cenchia d calos, ajudavam a gozar daquele enlevo. Postado `mesa de pista da Diretoria, rgulhoso de ali estar, me senti feliz e agradecido ao meu tio por me proporcionar momentos de encantamento.

Guardo na memória a alegria que me encheu naquela noite d 5 de janeiro, véspera de Teis, ao participar da festa, alegria que se transformou em entusiasmo quando, depois da meia-noite, já mais familiarizado com o ambiente, entrei no salão e caí no frevo com que a Orquestra Tabajara antecipava o carnaval.

Até as cinco da manhã era só animação e alegria naquela festa que começava homenageando os Reis Magos e terminava em louvor d'outro rei, o rei Momo.

Era assim a famosa e inesquecível Festa de Reis do Clube Astréia que foi embora para sempre e que hoje só me deixa saudade e recordação.
Carlos Pereira
Jornalista, escritor, engenheiro e
professor universitário

Publicada no jornal O Norte.

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