um conto-uma crônia
Um certo dia um amigo, do alto de sua experiência, disse-me: "Temos que ter muito cuidado com aqueles que andam se autodeclarando dignos, sérios, honestos, humildes e simples. O rosto da dignidade e da ética não necessita de marketing, nem muito menos de holofotos, pois, como a decência e todos outros traços importantes de uma boa personalidade, esses atributos são facilmente percebidos até pelo mais simples homem do povo. Aliás, essas virtudes deveriam ser a regra e não a exceção".
Reservou-se o tratamento honorífico de "digno", justamente para aqueles cidadãos que são possuidores de autoridade moral, honestidade, honra, respeitabilidade e decência reconhecida por toda a sociedade. Mas no mundo em que vivemos, os dignos são constantemente vilipendiados por aqueles que não conseguem, por si próprios se firmar. É aquela história: quem não tem competência procura subir destruindo os outros. Em algumas oportunidades, até mesmo criam ou constroem situações visivelmente falsas, apenas com o intuito de denegrir a imagem do próximo. Todavia, esses que dirigem olhando apenas para o retro-visor, certamente, atropelarão inocentes e colidirão frontalmete com a verdade. Esta pode até demorar, mas, sem dúvida, no momento certo, aflorará e levará esses pseudocidadãos para um mergulho inevitável num abismo sem volta.
Quando nos deparamos com situações injustas, criadas com o único afã do vil sentimento de transformar dignos em indignos, certamente, surgirá em nossas mentes a lembrança da frase do senador piauíense, Mão Santa: "Não há nada mais fiel do que o nosso inimigo". Mas também impende ressaltar que, às vezes, as coisas acontecem porque muitos pseudolíderes se perdem na trajetória da vida, por darem ouvidos às denominadas bajulações. Um verdadeiro líder é aquele que está vacinado contra esse vírus letal que só destrói a boa e digna convivência humana. Quem escuta e não consegue separar a lisonja da verdade termina sendo tão pobre quanto o próprio bajulador.
Nesse norte é sempre bom lembrar o pensamento do filósofo Marco Túlio Cícero, nascido em 3 de janeiro do ano 106 a.C., que certa feita disse: "Pode-se discernir o amigo bajulador do verdadeiro, usando da mesma inteligência para distinguir entre coisas artificiais e simuladas das genuínas e autênticas. Nela, segundo dizem, se não vires o peito aberto e assim mostrares o teu, nada haverá de claro e de confiável. Também não poderás amar nem ser amado, pois que não podes saber o que existe de verdade por detrás. Ainda que a lisonja seja nefasta, ela só prejudica a quem a aceita de modo complacente. Em razão disso, ninguém dá mais atenção aos aduladores do que aquele que se lisonjeia a si mesmo com excesso de entonação."
Verdadeiros amigos são aqueles que, em momentos difíceis, sempre nos estendem a mão e nos aliviam com uma palavra de conforto, quando não de coragem e de fé. O mesmo Cícero disse: "Os dignos de amizade são aqueles em que existe fundamento para serem amados. Aliás, uma espécie rara! Cada qual se ama a si mesmo não porque retira disso algum preço e, sim, porque cada um em si é caro para si mesmo. Se isso não for transferido para a amizade, então jamais seria encontrado o verdadeiro amigo, porque este é um outro eu mesmo".
Por isso, a história proclama aqueles que foram verdadeiramente grandes, pela sua imensa inteligência, pelo seu caráter , ética e pela dignidade. Homens se notabilizaram pelo dom de comandar, administrar e liderar, sem, contudo, perder a humildade e o jeito simples de ser.
Onaldo Queiroga.
Escritor e Juiz de Direito.
Esquina da Vida
Capítulo I - O Mundo sem Porteira
Tudo tem seu apogeu e seu declínio...
Páginas 48, 49 e 50.
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