um conto-uma crônica
Oh! mundo velho! O tempo passa no girar da terra, no fogo das queimadas silenciando o sabiá, na súplica infinita das matas que tombam sob o insano gritar das serras elétricas. Oh! mundo arcaíco, que caminha no balanço das águas do mar, e que com Katrina e tsunamis desenha avisos apocalípticos. Oh! mundo antigo, que voa no céu de lua e estrelas, de condores, de amores, violões e vilões.. Céu com seus rios que rasgam a escuridão, sacudindo o firmamento com a ira dos trovões impiedosos usurpadores da paz cósmica.
Oh! mundo, que dizem antiquado! Que velhice é essa que não consegue ensinar ao homem agir com simplicidade e com solidariedade? Não sei. Não tenho idéia de quantas guerras teremos ainda que transpor. Quantos guerreiros, sonhos e esperanças tombarão dianrte de tiranos, lembranças de um tempo vil, que já cansou de fazer a história chorar sangue de jovens libertários.
Passa o tempo e a poeira da insolência ainda se põe de pé na estrada da humanidade. É como se houvesse uma sensação pairando no ar, desenhando a roda grande andando dentro da menor. Tempo em que o mal já foi visto pelos corredores dos templos transvestido de benfeitor. Tempo em que a "decadência" e a "prescrição", no mundo jurídico, têm rosto de impunidade e de um declínio que paulatinamente vem colocando em xeque a estabilidade de uma sociedade.
Arnaldo Jabor traduziu um poema intitulado The second coming, editado em 1919 por William Yeats, cuja parte final diz: " Alguma revelação vem por aí; sem dúvida, é a segunda vinda, segunda vinda! Digo estas coisas e o espírito do tempo nubla meus olhos . Nas areias do deserto uma forma de leão com cabeça de homem. Com o olhar vazio e impiedoso como o sol, move-se lentamente, enquanto rondam as sombras de raivosos pássaros do deserto. Voltou a escuridão; e eu vejo que vinte séculos de sono de pedra querem se vingar do pesadelo que lhes trouxe o berço de um presépio. A hora chegou por fim. Que monstruosa fera se arrasta para Belém para renascer?"Parece que há uma incerteza navegando no oceano em que habita cada ser. Olhares distantes e confusos. É como deixa transparecer o poema: parece que o mundo resolveu caminhar para um fim inevitavelmente sinistro. Mas, é preciso ter fé e não deixar nunca o pavor nos dominar. É preciso que cada um de nós, uma vez ao dia, por um minuto, pare em reflexão e deixe que a mensagem de Osvaldo Montenegro penetre nossas almas através da música "A Lista:
"Faça uma lista de grandes amigos.
Quem você mais via há dez anos atrás.
Quantos você ainda vê todo dia.
Quantos você já não encontra mais.
Faça uma lista dos sonhos que tinha.
Quantos você desistiu de sonhar.
Quantos amores jurados pra sempre.
Quantos você conseguiu preservar.
Onde você ainda se reconhece.
Na foto passada ou no espelho de agora.
Hoje é do jeito que achou que seria?
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava.
Quantos você conseguiu entender.
Quantos segredos que você guardava.
Hoje são bobos, ninguém quer saber.
Quantas mentiras você condenava.
Quantas você teve que cometer.
Quantos defeitos sanados com o tempo.
Eram o melhor que havia em você.
Quantas canções que você não cantava.
Hoje assovia pra sobreviver.
Quantas pessoas que você amava.
Hoje acredita que amam você."
Onaldo Queiroga.
Escritor e Juiz de Direito.
Esquina da Vida
Capítulo I - O Mundo sem Porteira
Tudo tem seu apogeu e seu declínio...
Páginas 45, 46 e 47.
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