Fui autor de poucos títulos honoríficos durante minha atividade parlamentar. Em quase quatro mandatos, as homenagens que projetei não passaram de três. Uma delas tornou Cidadão Paraibano o cantor e compositor Luiz Gonzaga. Por essa iniciativa, ganhei a inveja de Evaldo Gonçalves, conforme me confessou. Admirador do grande Gonzaga, ele gostaria de ter sido o autor daquele projeto de lei. Compensou sua frustração quando batizou como paraibano o maestro Severino Araújo, imortalizado por sua Orquestra Tabajara.
Admiradores do pernambucano de Exu lotaram a Assembléia. Na data marcada (1979) para Gonzaga receber o título, eu não assumira ainda o mandato de deputado. Estava a depender da posse de Burity no governo e de Edme Tavares no secretariado, para adquirir a titularidade do mandato. Preparei o discurso de saudação ao novo paraibano e pedi a Assis Camelo para lê-lo. A plaquete foi intitulada "Luiz Lua Gonzaga, sua sanfona, sua simpatia", apresentação radiofônica consagrada por Ari Barroso. Terminados os discursos, Gonzagão brindou os paraibanos com sua sanfona e simpatia, cantando no parlatória da Assembléia diante de uma praça João Pessoa lotada. Só Frei Damião conseguiu igual façanha.
O governador Dorgival Terceiro Neto ofereceu ao homenageado um jantar na Grança Santana e, no dia seguinte, o compositor Luiz Ramalho ("Foi Deus quem fez você") me convidou para almoçar em sua casa com o Rei do Baião. Na ocasião, a conversa se descontraiu e vários assuntos vieram à pauta. Gonzaga se permitiu abordar a convivência meio tumultuada com o filho Gonzaguinha, expressou a opinião de que Dominguinhos seria o seu sucessor e, principalmente, lembrou a música "Paraíba masculina", com que pretendeu homenagear a Paraíba, "pequenina, mulher macho sim senhor", e terminou gerando uma imagem distorcida da mulher paraibana.
Não precisava explicar, mas ele o fez: macho era o Estado, de nome feminino mas forte como o "pau pereira que em Princesa já roncou". Sem duvida uma alusão a Zé Pereira, que fez de Princesa um território independente. Mas o filho de Januário se confessava angustiado com a deformidade nascida da sua música. Até hoje, por esse imenso Brasil, basta uma mulher revelar atitudes mais agressivas para ser chamada de Paraíba. Gonzaga revelou-se eternamente inconformado com o equívoco. No seu discurso na Assembléia, chegou a pedir desculpas às paraibanas.
Sem dúvida, a cidadania atribuida a Luiz Gonzaga foi merecida e justa. Na época, essas concessões eram melhor avaliadas pelo Poder Legislativo e representavam uma honraria à cidadania. Na atualidade, são inúmeras as medalhas existentes e maior ainda a pressa em concedê-las. As casas legislativas de hoje, em termos de concessão de medalhas, rivalizam com as competições olímpicas...
Ramalho Leite
Jornalista e politico.
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Ramalho Leite - Paraíba Mulher Macho
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