Cantinho da paz
Boa parte de nossa infelicidade ou aflição nasce do fato de vivermos rodeados (por vezes esmagados ou algemados) por mitos. Nem falo dos belos, grandiosos ou enigmáticos mitos da Antiguidade grega. Falo, sim, dos mitinhos bobos que inventou nosso inconsciente medroso, sempre beirando precipícios com olhos míopes e passo temeroso. Inventam-se os mitos, ou deixamos que aflorem, e construímos em cima deles a nossa desgraça.
Ao contrário, se não acumularmos bom humor, autocrítica, certa generosidade e cultivo de afetos vários, seremos velhos rabugentos que afastam família e amigos. Nem sempre o velho ou a velha estão isolados porque os filhos não prestam ou a vida foi injusta. Muitas vezes se tornam tão ressequidos de alma, tão ralos de emoções, tão pobres de generosidade e alegria que espalham ao seu redor uma atmosfera gélida, a espantar ou outros.
E o mito do homem fortão, obrigado a ser poderoso, competente, eterno provedor, quando esconde como todos nós um coração carente, uma solidão fria, a necessidade de companhia, de colo e de abraço - quando é, enfim, apenas um pobre mortal.
Falemos ainda no mito da esposa perfeita, aquela da qual alguns homens, enquanto pulam valentemente a cerca, dizem: "Minha mulher é uma santa". Sinto muito, mas nem todas são. Eu até diria que, mais vezes do que sonhamos, somos umas chatas. Sempre reclamando, cobrando, controlando, não querendo intimidades, ocupadas em limpar, cozinhar, comandar, irritar, na crença vã de que boa mulher é a quem mantém a casa limpa e a roupa passada. Seria bem mais humano ter braços abertos, coração cálido, compreensão, interesse e ternura.
O mito de que a juventude é a glória demora a ruir, mas deveria. pois jovem se deprime, se mata, adoece, sofre de perdas, angustia-se com o mercado de trabalho, as exigências familiares, a pressão social, as incertezas da própria idade.A juventude - esquecemos isso tantas vezes - é transformação por vezes difícil, com horizontes nublados e paulatina queda de ilusões. É fragilidade diante de modelos impossíveis que nos são apresentados clara ou subliminarmente o tempo todo.
Enfim, a lista seria longa, mas, se a gente começar a desmistificar algumas dessas imagens internalizadas, começaremos a ser mais sensatamente felizes. ou, dizendo melhor: capazes de alegria com aquilo que temos e com o que podemos fazer numa vida produtiva, porque real.
Este texto é de autoria da escritora Lya Luft, numa colaboração do amigo Pádua.
Lya Luft (Coluna Ponto de Vista, extraída da revista Veja, edição 1901, 20 de abril de 2005.Lya Luft é escritora).
Brígida Brito
Médica e terapeuta de regressão
Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição 31/05/2014
Espaço do Ser
Cultura.
Enfim, a lista seria longa, mas, se a gente começar a desmistificar algumas dessas imagens internalizadas, começaremos a ser mais sensatamente felizes. ou, dizendo melhor: capazes de alegria com aquilo que temos e com o que podemos fazer numa vida produtiva, porque real.
Este texto é de autoria da escritora Lya Luft, numa colaboração do amigo Pádua.
Lya Luft (Coluna Ponto de Vista, extraída da revista Veja, edição 1901, 20 de abril de 2005.Lya Luft é escritora).
Brígida Brito
Médica e terapeuta de regressão
Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição 31/05/2014
Espaço do Ser
Cultura.
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