quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Carlos Romero - A Fé E O Amor

um conto-uma crônica

Pedra, símbolo de inflexibilidade, de dureza e firmeza, foi sempre citada no Evangelho, a começar quando Jesus se dirigindo ao apóstolo Pedro, disse: "Tu és pedra e sobre  ti edificarei minha igreja".

Acontece que a pedra era humana. Daí ter dito, diante do tribunal que julgou Jesus, que desconhecia o seu mestre. Fato que ocorreu"antes que o galo cantasse" como foi previsto.

A pedra também foi obstáculo no belo poema de Drummond e que começa:"No meio do caminho tinha uma pedra". Mas, deixemos Drummond  e voltemos a Jesus, que começou a marcha da evangelização, num monte ou montanha, quando proferiu o mais belo sermão de todos os tempos, a ponto de o iluminado Gandhi dizer que se tudo acabasse, restando apenas o Sermão , nada estaria perdido.

Montanha é pedra. Pedra silenciosa. Pedra que fala. Jesus escandalizou os judeus quando disse que o templo de Jerusalém seria derrubado, não ficando pedra sobre pedra.

No episódio da Mulher Adúltera, acusada pelos fariseus, o Mestre não fez nenhum julgamento. Apenas disse: "aquele que estiver sem pecado, que lhe atire a primeira pedra".

A pedra sozinha não fere ninguém. É neutra. E quem a utiliza para o mal, responde pelo ato. No "Sermão da Montanha" Jesus ensinou que casa construída sobre rocha, isto é, sobre a pedra, não ruirá, mesmo que venha tempestade.

Na tentação no deserto, o Diabo desafiou Jesus a transformar pedra em pães, querendo, assim, testar Jesus. É o que narram as escrituras.

A pedra não serve de travesseiro. Todavia, num momento de profunda melancolia, fez Jesus esta dolorosa confissão:"O Filho do Homem não tem uma pedra para repousar a cabeça". Inobstante exaltemos a pedra como símbolo de fé, a água pode simbolizar o amor. Tanto é assim que, segundo o ditado: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura".

Portanto, não esqueçamos a didática da pedra. Ela ensina fé e firmeza. Jesus, ao deixar o mundo, disse quem era seu verdadeiro discípulo: aquele que muito ama. Será que estamos cumprindo a receita do Mestre? Já não digo amando, mas pelo menos, compreendendo o próximo?...

Carlos Romero é membro da Academia Brasileira de Letras.

Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 05/05/2014
Opinião


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