um conto-uma crôncia
No Natal de 1871, padre Cícero Romão Batista visitou pela primeira vez o povoado de Juazeiro, convidado pelo professor Semeão Correia de Macedo. Alí celebrou a tradicional Missa do Galo.
No dia 11 de abril de 1872, voltou com bagagem e família, para fixar residência definitiva em Juazeiro. Segundo a história, padre Cícero resolveu fixar morada alí devido a um sonho que teve. Conforme relatos de amigos, ele teve uma visão de Jesus Cristo e os doze apóstolos sentados à mesa, numa disposição que lembrava a última ceia. Viu adentrarem o local inúmeras pessoas conduzindo poucos pertences em trouxas, como se retirantes fossem. Cristo falou aos famintos da sua decepção com a humanidade. Mas, disse estar disposto ainda a fazer um último sacrifício para salvar o mundo. Naquele momento, apontou para os pobres e, voltando-se inesperadamente, ordenou: E você, padre Cícero, tome conta deles!
Tendo assumido essa missão, tornou-se o santo do Juazeiro. Ainda hoje, a romaria que se dirige ao Santuario, situado no Horto do Juazeiro, é algo impressionante. Os romeiros trazem consigo a dor, o sofrimento e o sacrifício. Mas, com a esperança no peito e movidos pela fé no padre Cícero suplicam e alcançam suas graças.
Depois da morte de padre Cícero, suas obras e o comando religioso do Juazeiro passaram para alguns outros sacerdotes. Todavia, foi através do monsenhor Francisco Murilo Corrêa de Sá Barreto, filho de José Pácifer de Sá Barreto e Laudelina Corrêa de Sá Barreto, que a crença no santo do Juazeiro tornou-se mais forte. Considerando o mais perfeito substituto do padre Cícero, monsenhor Murilo chegou a Juazeiro, permaneceu no cargo até o seu falecimento, no amanhecer do dia 04 de dezembro de 2005.
O Juazeiro do meu padim encontra-se silente. Uma multidão de romeiros chorava de saudade no velório e sepultamento do monsenhor Murilo. Enfrentando o sol causticante do cariri, a multidão deu adeus ao vigário, devoto maior do padim Cícero. Velado em sua terra natal, Barbalha, no Ceará, foi então levado para a Capela do Encontro, localizada ao lado da Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores, no Juazeiro, onde foi sepultado após a missa concelebrada, com a presença de Dom Fernando.
Monsenhor Murilo costumava dizer que "padre Cícero foi o dínamo do crescimento de Juazeiro e o seu maior benfeitor. O homem que acionou o desenvolvimento colocando a pessoa humana como sujeito e não objeto desse progresso. Lamento que em tão pouco lapso de tempo se tenham dito tantas inverdades, criado tamanhas estultícies e aberrações e, em pleno século da civilização, se vomitasse tanto rancor e tanto ódio a um padre que se dedicou com alma de missionário aos humildes e sofredores. Rogo a Deus que cesse a inveja, para que o ódio dê lugar à fraternidade. Romeiros, permanecei unidos, tenham o que o Padre Cícero teve até morrer: a Santa Igreja". Adeus, mosenhor Murilo.
Onaldo Queiroga
Escritor e juiz de Direito.
Esquinas da Vida.
Capítulo V - Messias
Os romeiros trazem consigo a dor, o sofrimento e sacrifício.
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