terça-feira, 15 de março de 2011

Carlos Romero - Aquele Olhar De Jesus




um conto - uma crônica

Nunca houve, no mundo, um olhar que viu tanto, que observou tanto, que amou tanto, que sofreu tanto. Se me perguntassem o que gostaria de ver, caso vivesse no tempo de Jesus, eu responderia sem pestanejar: o olhar do Mestre, seja na alegria, seja na tristeza, seja nos convidando a contemplar os lírios do campo, seja curando os doentes do corpo e da alma.

Um olhar que desconhecia a escuridão por que só via a luz. E quem está iluminado desconhece as trevas.

Aliás, o olhar é tudo. Uma pessoa se identifica pela maneira de ver as coisas. Dizem que o Mestre jamais sorriu. Sim, talves não tenha escancarado a boca para um sorriso, mas, e o olhar quando ele nos convidou a contemplar os lírios dos campos, e as aves do céu, teria sido um olhar circunspecto, sisudo, de desembargador lendo os autos? Não, leitor, ele sorriu com os olhos. Mais ainda, quando o Mestre proferiu aquele sublime e poético convite: "vinde a mim as criançinhas" - foi com o rosto escurecido por uma carranca?

Jesus ensinou: "se teus olhos forem bons, tudo se iluminará". Ele só não sorriu quando encontrou o templo transformado num mercado. Ele só não sorriu quando viu homens cobertos de chagas, quando viu cegos desejando ver a luz, paralíticos ansiando caminhar, mudos rogando o uso da palavra.

E naquele sermão inaugural da jornada evangélica, o Sermão da Montanha, que beleza de olhar derramando sobre a multidão sequiosa de amor a de verdade.

O olhar de Jesus era um olhar, sobretudo de compaixão. Olhar de quem está no alto, observando os que estão embaixo. Olhar que penetrava fundo nas pessoas. Olhar que até podia cegar, pois não foi assim naquele encontro com Paulo, na estrada de Damasco? O apóstolo dos gentios não suportou aquela cascata de luz em seus olhos. Ficou cego.

Mas o comovente foi quando o Mestre, olhando a multidão pra lá e pra cá, inquieta e aflita, comparou-a a ovelhas sem pastor, isto é, sem uma maior conscientização da vida, sem um objetivo maior.

Olhar de Jesus! Como deveria ser belo. Belo só não, sublime. Eu só não gostaria de vê-lo na cruz, diante da multidão optando pela liberdade de Barrabás, os pés, as mãos, o rosto ensopado de sangue. Um olhar de misericórdia, de melancolia profunda e que o levou a pedir ao Pai: "Perdoa-os porque eles não sabem o que fazem".

E saber que aquele olhar surgiu, depois, no túmulo, na alvorada da ressurreição, diante de Madalena, a quem ele fez a grande e profunda recomendação: "não procure entre os mortos, aquele que vive". A grande lição da imortalidade da alma e da comunicação mediúnica.

Aquele olhar de Jesus! Ah!, como gostaria de ter visto!...
Carlos Romero
Professor e cronista.
Membro da Academia Paraibana de Letras.
Publicada no jornal A União.
Coluna Destaque
Edição de 12/11/1010.

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