terça-feira, 22 de março de 2011

Carlos Romero - Recado Do Além

um conto - uma crônica

Encontro-me com a médium Ieda Almeida e ela me perguntou quem foi Gerardo Parente. Fui logo respondendo: um grande amigo meu, hoje na vida espiritual. Um excelente pianista, dono de um coração boníssimo e simples. Um homem incapaz de matar uma mosca.

Acontece que minha amiga Ieda nunca ouviu falar de Gerardo, que, agora, em espírito, me mandava o seguinte recado: estava muito bem na vida espiritual. Impossível não acreditar nessa informação da jovem e responsável médium.

E aqui para nós: não é para mim nenhuma surpresa saber que o meu bondoso amigo e virtuose do piano, está muito bem na vida espiritual. Quem o conheceu aqui na vida terrena, sabe que se tratava de uma pessoa simples, que não sabia guardar ódio, que viveu somente para a música. Veio para cá do Ceará e aqui se deu muito bem, pois ninguém melhor do que ele sabia fazer amigos. Começa que vivia com um sorriso nos lábios.Não sabia fechar a cara nem o coração. Impossível não se contaminar com a bondade de Gerardo.

Foi concertista e professor. Ele era a própria música. Não cuidava de outra coisa. Estou certo que ele está incluído naquela bem-aventurança do Sermão da Montanha referente aos puros de coração.

E como sabia ele estimular os outros! Lembro-me da alegria que teve quando soube que o trombonista de Itaporanga, Radegundes, hoje na nossa Sinfônica, obtivera muito êxito nos Estados Unidos. Parecia que se tratava de um filho seu.

Mas Gerardo era assim: uma criatura boníssima. Difícil não gostar dele logo à primeira vista. Já aposentado, ele não perdia um concerto da nossa Sinfônica. Gostava de juntar suas palmas às da assistência do Teatro Banguê. E terminado o concerto, ei-lo subindo ao palco para abraçar e parabenizar os músicos, um a um.

Gerardo Parente! Nunca me esqueci de um gesto seu. Gesto que foi objeto de uma crônica minha. Faz tempo. Ele estava, na porta de sua casa, por sinal uma bela casa, dando comida a um vira-lata, num prato. O fato me comoveu. Ao invés de enxotar o animalzinho, como fazem muitos, ele procurava alimentá-lo como se tratasse de uma pessoa.

Faz tempo que ele se foi deste mundo. E agora me chega aquele recado, através de Ieda, informando que o nosso musicista está muito bem. Evidente que sim, sua consciência não tem nada a acusá-lo. E é a consciência que nos dá o paraíso ou o inferno, quando, daqui saimos.

Decerto Gerardo continua alegrando a vida com a sua música e sua bondade. Só o cachorrinho é que não viu mais o portão daquela casa abrir-se para ele.
Carlos Romero
Professor e cronista.
Membro da Academia Paraibana de Letras.
Publicada no jornal A União.
Coluna Destaque
Edição de
24/03/2007.

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