quarta-feira, 30 de março de 2011

Onaldo Queiroga - A Epopéia Do Nada


um conto - uma crônica

Quando nos referimos ao vocábulo "nada", conceitualmente falando, Aurélio Buarque nos diz que nada significa nenhuma coisa, de modo nenhum ou a não existência.

Com isso, logo surge a idéia de que o nada constitui algo inofensivo, que não causa prejuízo algum e que não interfere nas nossas vidas. Ledo engano, pois, as vezes, o nada tem um poder destrutivo tão feroz que aniquila sonhos e vidas. O fato é que se de um lado algumas pessoas entendem que o nada está afeto à personalidade dos covardes, daqueles que não assumem posições e vivem em cima do muro, de um outro lado, tem quem diga que muitos se utilizam do nada propositadamente para provocar situações vexatórias, constrangedoras e até mesmo dolosamente detonar projetos de outrem, apenas e simplesmente pelo sentimento da inveja.

Se existem pessoas que se notabilizam pela coragem de assumir posições fortes e enfrentar intempéries, também existem aqueles que se escondem sob o manto do nada, pois não assumem posições, não têm coragem de colocar as cartas na mesa e de público dizer qual o caminho que vão seguir. Esses preferem a inércia, ficam sentados na beira da estrada, assistem ao caos se instalar e até mesmo diante de sua inércia contribuem com a implantação do caos, quando na verdade a chave para a solução do problema está na sua própria mão.

Agora, imaginem quando uma pessoa com essas características assume um cargo de destaque, não há dúvida de que o nadaísmo trasnformará a credibilidade em descrédito, a confiança em desconfiança, a eficiência em ineficiência, a normalidade no complexo caos. É possível até se visualizar a epopéia do nada, que aflora em decorrência de pessoas que talvez sofram de obnubilações, que se deixam levar pelo deslumbramento e passam a ser guiados por uma confusão mental que dificulta a conexão de pensamentos e, com isso se socorrem, infelizmente, do nada como nutriente da sua própria existência.

A verdade é que "o nada", que tem como combustível a inércia, não tem o direito de obstruir ou dilapidar o sonho de ninguém. Emmanuel nos ensina que: "Ninguém possui medida bastante capaz, a fim de avaliar as dificuldades alheias", contudo, sabemos que a humanidade está cansada daqueles que lavam as mãos e se refugiam sob o manto do nadaísmo.

Pelo que se constata o nada, com seu silêncio, é algo muito perigoso, sucumbe a felicidade e esmorece a coragem. Por isso, é preciso que o homem tenha o desassombro de agir, buscando o bem como prioridade, pois errar involuntariamente é compreensível, tendo em vista que é no erro que se aprende.
Onaldo Queiroga.
Escritor e Juiz de Direito.

Publicada no Jornal Correio da Paraíba.
Coluna: Opinião
Edição de sábado.

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