terça-feira, 22 de março de 2011

Onaldo Queiroga - Cara E Coração





um conto - uma crônica

Há um sábio ditado popular que diz: "Quem vê cara, não vê coração". Realmente existem pessoas que apesar de possuírem um belo rosto, com feições delicadas, olhar solícito e aparência de bom samaritano, possuem um coração diametralmente contrário a todo esse perfil, pois se conduzem na vida praticando atos movidos pela inveja, ganância, individualismo, crueldade e egoísmo.

Essa é uma verdade que vem sendo constatada diariamente através dos noticiários televisivos de todo o Brasil. São incontáveis os casos em que a notícia de um trágico homicídio traz no contexto os responsáveis criminalmente como sendo belas mulheres e homens considerados, pelo público feminino, como galãs. São pessoas de beleza física inconteste, mas investigadas pelo envolvimento na morte de seus genitores, esposas e maridos. Essa ligação entre a beleza física e o coração satânico é algo que vem se ascentuando nos dias atuais. Mas o que há por trás disto?

Se observarmos atentamente essas tragédias, quase sempre há um comportamento ligado às drogas, ou, à vontade incontida de alcançar o usufruto de valores pecuniários relacionados com seguros, ou mesmo com a transferência do patrimônio das vítimas para aqueles que com a cara de bom moço ou moça, na verdade perpetram o delito como meio de juridicamente instaurar a sucessão hereditária e assim herdar todo o patrimônio do falecido. Há nisso tudo a crença na impunidade. É que há uma idéia de que a lei é fraca e, por isso, se pode fazer e acontecer, pois se acredita que nada resultará em punição. Isso não é verdade, tanto que existem casos e mais casos de figurões da sociedade que assim agiram, mas estão atrás das grades.

Outro ponto que chama atenção nesses casos é que o autor do delito, por ser tratável e de uma beleza singular, com desfaçatez tenta mostrar que está sendo injustiçado, que não tem culpa alguma em relação ao ocorrido. Essa beleza, misturada com um traço psicopático, mexe com qualquer um, põe dúvida na cabeça da gente, causa um choque enorme, pois passamos a olhar para aquela aparência ao tempo em que o nosso pensamento reluta em compreender como uma pessoa daquela tão privilegiada praticou um ato tão violento. Ressalte-se que há uma equivocada pré-concepção de que todo marginal tem que ter traços fisionômicos monstruosos, o que revela uma concepção lombrosiana. É aí onde mora o perigo, pois a marginalidade, travestida de beleza, tem um espaço maior para agir e conseguir os seus intentos. Quantas vezes pensamos ser ficção, mas a realidade é que cruzamos com viúvos e viúvas negras que circulam por aí desfilando uma beleza maldita.

Na verdade são seres que não têm Deus no coração, vivem numa realidade mundana.Num mundo de tanta maldade e desencantos devemos sempre ter cautela, pois quem vê cara, não vê coração.

Onaldo Queiroga.
Escritor e Juiz de Direito.

Publicada no Jornal Correio da Paraíba.
Coluna: Opinião
Edição de sábado.

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