segunda-feira, 25 de abril de 2011

Onaldo Queiroga - Solilóquio


um conto-uma crônica
Antes de tudo, é importante explicar, de maneira clara, o que vem a ser um solilóquio. O fenômeno ocorre quando alguém fala ou mesmo conversa consigo mesmo, numa espécie de monólogo. É uma forma dramática ou literária do discurso em que a personagem extravasa, de maneira ordenada e lógica, os seus pensamentos e emoções, em monólogos, sem dirigir-se especificamente a qualquer ouvinte.

No mundo de hoje, povoado pelo estresse, pela insatisfação, pela incompreensão, pela sede insaciável do consumismo, pelo distanciamento em relação à fé, o ser humano vem, cada vez mais, ficando face a face com a solidão. A sensação de estar sozinho, de inutilidade, de exclusão dos eventos organizados por amigos ou pela família vem crescendo acentuadamente, mais ainda entre os habitantes das grandes metrópoles.

É nos grandes centros urbanos que encontramos a maior incidência de solilóquio. Ocorre com mais intensidade entre os transeuntes solitários dos congestionamentos das avenidas, mergulhados em constantes monólogos.

Quantas vezes não paramos nos semáforos e, ao olharmos para os veículos da direita ou da esquerda, divisamos pessoas que, apesar de estarem sozinhas, encontram-se ali gesticulando! É como se estivessem conversando com alguém, quando na verdade, estão em monólogos extravasadores dos seus próprios sentimentos.

Nesses instantes, chegamos a dizer para nós mesmos: esse é um doido, falando sozinho! Pobres hipócritas que somos, pois também usamos nossos solilóquios, talvez em grau mais elevado do que os das pessoas dos semáforos, ou mesmo das que transitam pelas calçadas da vida.

São tantos os problemas enfrentados no mundo hodierno, que o ser humamo, muitas vezes, não consegue dialogar com seus semelhantes e termina por usar, cada vez mais, solilóquios. O perigo tornar-se-á iminente, se chegarmos a imaginar a possibilidade de o ser humano deixar até mesmo de soliloquiar.

Nesse caso, sem dúvida, mergulhará definitivamente no mundo da solidão indesejável, aquela já expressada pelo poeta e cantor Alceu Valença: "A solidão é fera, a solidão devora, é amiga das horas, prima-irmã do tempo, e faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração".

Mas há quem diga que a solidão é saudável. Alega-se que, quando o indivíduo está sozinho, permite a si mesmo conquistar o seu próprio equilíbrio emocional, como uma oportunidade de autoconhecimento.

Diante dessas duas vertentes, esperamos que o ser humano utilize-se de solilóquios, mas no propósito de tornar o monólogo útil, dando-lhe o poder de rezar com fé, de se aproximar cada vez mais de Deus.

Ao conversar consigo mesmo, o ser humano estará procurando preencher o seu vazio interior, fortalecendo sua auto-estima. Estará enxergando que, acima de tudo, deve ter amor próprio, porém dissociado do egocentrismo e com o olhar da solidariedade.

Onaldo Queiroga.
Escritor e Juiz de Direito.

Monólogos do Meu Tempo.
Páginas 16, 17, 18 e 19.

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