Insiro toda a minha emoção nos escritos destas linhas de Orelha. É que a obra analisada é fruto do nosso fruto: do meu marido e meu. Ao tempo em que alinho as idéias, remonto à data de 22/07/1966, precisamente às 12h30min, em Pombal, registro da chegada do nosso primogênito, Onaldo, que, agora, surpreende-nos com uma forma diferente de primogenitude, nascida também das entranhas do seu "eu" e das luzes do seu "espírito", sob a forma de livro, intitulado Monólogos do meu Tempo.
Onaldo Rocha de Queiroga, em "Solilóquio", porta de entrada desta produção literária, externa a sua constante preocupação com o homem hodierno: egocêntrico, consumista, distante da fé, talvez, por tudo isso, solitário e fadado ao monólogo doentio, não o útil, capaz de levá-lo ao "equilíbrio emocional" e ao "autoconhecimento".
A prosa de Onaldo Queiroga acha-se construída em sedimentado arcabouço sensitivo, rítmico e melódico tal qual a poesia cantante de um vate que sempre tem esperança e acredita na possibilidade de recuperação do homem, após os desacertos da vida.
O espírito que alimenta as suas crônicas, assemelha-se a árvore frondosa, em cujos galhos espalham-se a paciência e a sensatez próprias de um ser virtuoso que não se deixa quebrantar ante as implacáveis vicissitudes sociais que, muitas vezes, germinam no coração dos desavisados. Ajuda-os e desafia-os, com o seu cerne de tessitura lenhosa e raízes fortes, a encontrarem um novo caminho de trilhas benfazejas, onde os aguarda a paz.
Essa credibilidade reacende em toda a sua pujança na textura da obra, quando o autor se encontra com a "Vila Feliz" de Jan-João e Bodin, crianças párias da sociedade, mas que ainda não perderam o encanto da vida. São felizes sob a "proteção de Badeco, de Lis e do Senhor. Não furtam, não cheiram cola, não bebem, não fumam, porque acreditam que a vida, apesar de tudo, é bela".
A reflexão do autor aprofunda-se, em "O lixo e o luxo", nos contrastes de "dois mundos paradoxalmente distintos". O último repleto de riqueza e ostentação, de prazer e futilidde; o primeiro marcado pela miséria e nudez, pela segregação e fome. No epílogo, capta-se a sentença final do cronista pensador: "A distorção fabrica-a o homem; Deus dá a sua benção a todos indistintamente". Aqueles acontece, porque os "Meros Transeuntes" não conseguem decifrar muitas coisas que existem na Terra, quanto mais o que há além de seus limites.
O autor é homem de muita fé, do inicio ao fim de seu livro, mormente em "Ordem Inversa". "Água e Fogo", "O Homem e o Rio". E por ser um homem de fé, acredita na mensagem da vida e da morte deixada pelo Senhor e nele sedimentado por lampejo de sabedoria da avó Raimunda, em "Diálogo Final", quando, consciente da evolução natural da vida, disse-lhe: " É meu filho, mas a morte é o único verdadeiro símbolo da igualdade humana. Seja pobre ou rico, preto ou branco, dela ninguém escapa e, por isso, já a espero tranquila. Sei que cumpri minha missão e a paz celestial me aguarda";
E o neto Onaldo, em sua inspiração, completa: "A morte é soberana em colocar de joelhos, sob sua presença, não só os simples mortais, mas também os poderosos, com sua arrogância, vaidade e desvarios".
Que Deus o ilumine sempre, filho nosso, primogênito. Amem!
Onélia Setúbal Rocha de Queiroga.
Escritora e Professora de Ciências Jurídicas
da Faculdade de Direito da UFPB.
Colunista do Caderno 2, página Cultura,
do jornal “ Correio da Paraíba”.
Monólogo do meu Tempo
Onaldo Queiroga.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Onaldo Queiroga - Monólogo Do Meu Tempo - Linhas De Orelha
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