terça-feira, 26 de abril de 2011

Onaldo Queiroga -Amigos E Amigos


um conto-uma crônica
Na vida convivemos com muitas pessoas. Somos conhecidos e conhecemos. Uns têm vida social intensa e, com isso, passam a se relacionar com um número enorme de pessoas. Ante esses inúmeros relacionamentos, equivocadamente, emerge o costume de se dizer, por exemplo, que "fulano e beltrano são meus amigos. Neles posso confiar. Com eles posso contar. Por eles faço o que posso. E até mesmo dá-se um jeito para aquilo que pareça ser de impossível solução."


É aí onde mora o perigo. Na grande maioria das vezes, somos precipitados na avaliação das amizades. Logo ao conhecer uma pessoa, já a nomeamos como amiga. O fato é que algumas vezes praticamos atos em benefício de determinadas pessoas, em relação às quais acreditamos
haver amizade recíproca. Por elas, enfentamos obstáculos. Outras vezes, colecionamos gratuitamente inimigos e praticamos atos que jamais realizaríamos em nosso próprio benefício. E, em nome da "amizade", somos capazes de lutar sem limite de esforços para o sucesso do "amigo".

Na Roma antiga, Cícero afirmou: "Muitas vezes, é necessário que, antes, avalies o amigo que vais estimar e que não estimes quem ainda vai ser avaliado". É sábio este pensamento. Se fizermos uma análise de nossas vidas, certamente perceberemos que, em determinadas ocasiões, nos entregamos de corpo e alma a determinadas pessoas, sem que tenha havido análise mais acurada acerca da veracidade do sentimento de amizade. E, nesses casos, fatalmente, num futuro não muito distante, aquele que pensávamos ser nosso amigo, por ações ou omissões, deixará cair a máscara e mostrará sua verdadeira face.

Na visão de Cícero, "existe um pernicioso erro em quem julga ser a amizade a franquia para todas as paixões e pecados".
É por isso que se diz que a carne é fraca demais para desprezar o poder em nome de uma amizade. Muitos, para alcançar o poder falaciosamente argumentam que seriam capazes de sacrificar amizades, sob o cínico álibe de que assim agiriam por se tratar de algo grandioso. Cícero afirmou ainda:"A verdadeira amizade dificilmente é encontrada naqueles que vivem das honras dos cargos públicos". Aliás, o poder fascina e algumas vezes alucina. É importante saber assumir, exercer e deixar o poder. Os que para isso não estiverem preparados, certamente, causarão tempestades, que , depois, lhes causarão transtornos difíceis de contornar.

A verdadeira amizade pressupõe lealdade, além da presença do bom caráter. A respeito disse Ênio:"Amicus certus in re incerta cernitur" (conhece-se o amigo certo nas horas incertas). Apesar dos desencontros e das decepções que afloram no percurso da vida, devemos nos ater ao que deixou dito Chico Xavier:"Uma das mais belas lições tenho aprendido com o sofrimento; não julgar; definitivamente não julgar a quem quer que seja".


Onaldo Queiroga.
Escritor e Juiz de Direito.

Esquina da Vida
Capítulo I - O Mundo sem Porteira
Tudo tem seu apogeu e seu declínio...
Páginas 39 e 40.

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