terça-feira, 26 de abril de 2011

Onaldo Queiroga - Paz


um conto-uma crônica

Três letras. O "P" dos príncipes e ao mesmo tempo dos plebeus. O "A" do amor e no mesmo instante da aversão. O "Z" de Zoe e também de Zumbi dos Palmares. Uma palavra de pronúncia simples, de uma riqueza incomensurável no seu sentido e conceito. Exercitá-la será sempre sinônimo de ausência de lutas, de violências ou de perturbações sociais. 

Representa tranquilidade, concórdia, harmonia, sossego e felicidade. 

Mas, por que os homens insistem em não entender de forma correta esse vocábulo? Fácil é lê-lo e pronunciá-lo. Porém, colocá-lo em prática é algo que muitas vezes encaramos como impossível. É a relutância insana de um mundo repleto de vaidades, onde o limite dos céticos pelo poder afigura-se como o limiar de um horizonte infinito. 

Sonhar com um mundo justo, tranquilo e repleto de paz já resultou, de forma inconcebível, na morte violenta de diversos propagadores da paz. Por que interromper o sonho de Lennon e Mahatma Gandhi? Logo eles, pregadores da paz, sempre com o lema da não violência, terminaram brutalmente assassinados. 

Esse mundo nos remete a uma reflexão de Matias Ayres, um dos grandes pensadores, quando, numa frase memorável, disse: "Que são os homens mais do que as aparências de teatro! A vaidade e a fortuna governam a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel. Cada um recebe o que lhe dão. Aquele que sai sem fausto, nem cortejo e que logo no rosto indica que é sujeito à dor, à aflição e à miséria, é o que representa o papel do homem. A morte que está de sentinela, numa das mãos, carrega a foice fatal: na outra, o relógio. E com a foice, de um só golpe certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e desaparece". 

Daí a indagação: Até quando a vaidade e a fortuna serão pedras no caminho da paz? No caminhar daqueles que só desejam o viver simples? Afinal, viver é verdadeiramente algo muito simples. Basta praticarmos a solidariedade, compartilharmos o pão de cada dia e vivermos o amor. Se assim agíssemos, não haveria espaço para a discórdia e o extermínio diário de uma legião de nossos semelhantes. 

Mas, segundo alguns pensadores, o problema vem do conviver, principalmente num mundo de muitas vidas e subvidas. Nesse cenário, os miseráveis vagueiam como uma folha seca, perdidos no tempo e impulsionados pelo vento da cólera dominante; onde, muitas vezes, o riso traveste um punhal; onde o afago transcende as esquinas das conspirações; onde o abraço precede a emboscada; onde o ter faz sucumbir o ser; onde o dinheiro é o senhor absoluto. E a luxúria é simbolo de felicidade. 

Oh! Senhor! Perdoe esses medíocres, pobres de espírito, que acreditam no "verde" da moeda e esquecem as matas, refúgio da pureza e do canto dos pássaros. Olhemos para as águas do mar, para o arco-íris, para uma noite de lua clara e de inúmeras e belas estrelas. Lá encontraremos inevitavelmente a face da paz. 

Onaldo Queiroga 
Escritor e juiz de Direito. 

Esquinas da Vida. 
Capítulo I - O Mundo sem Porteira 
Tudo tem seu apogeu e seu declínio... 
Páginas 37 e 38.

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