sexta-feira, 15 de abril de 2011

Onaldo Queiroga - Bipolaridade


um conto-uma crônica
No fascinante mundo moderno, com sua sociedade materialista, de consumo fugaz, o novo já envelhece no cair da tarde. Vivenciamos um tempo veloz, de euforia e tristeza, agressividade e temperança, de horizontes de desencantos ou mesmo promissores. Mundo dos aficionados por adrenalina, pela vontade incontida de ter, exercer e jamais deixar escapar de suas mãos o poder. Mundo de múltiplas religiões, de profetas profetas, de profecias e profecias, de rebanhos fiéis e de fiéis descrentes; de inúmeras novidades e incentivos, mas de uma escassa imposição de limites.

Mundo bipolar de miséria e luxúria, de água para se banhar e imensa sede para se matar; dos arrogantes donos do poder e dos humildes partícipes da ceia da compreensão, da solidariedade e do amor. Mundo de guerra e de paz.

Tempo de seres que, após o suave sono das madrugadas e o acordar esplendoroso do sol nascente, mesmo assim, conseguem amanhecer de humor destoante do afinado canto dos sabiás. Ou, mesmo depois de uma sinistra noite sem lua, conseguem acordar com um alegre e embriagante sorriso. Seres de um bom-dia abrupto, mas que, incontinênti e incompreensivelmente, abandonam a chatice e espalham um riso faceiro e benevolentes atos de cordialidade.

A bipolaridade é algo presente no nosso dia-a-dia, faça sol ou caia chuva; seja noite de lua e estrelas ou de imensa escuridão. Esses seres são como a misteriosa e incompreensível permissão da natureza que, num só instante, autoriza ferreiros a executarem o seu estridente canto e canários a orquestrarem suas sublimes sinfonias.

Assim caminham esses transeuntes de um tempo repleto de excessivas trocas bruscas de humor. Que seres são esses? O tempo talhou nas suas faces a intempestividade e a imprevisibilidade, alternando sua conduta com um agir sereno ou feroz. Essa oscilação de personalidades, para não dizer esse transtorno psíquico, que a psiquiatria moderna denomina de disturbio bipolar do humor, é fato estudado até por sociólogos, diante da sua crescente presença na sociedade hodierna. Estudos relatam que já existe aproximadamente 1,6% de seres humanos acometidos por esse distúrbio. A inconstante conduta dos bipolares causa situações desagradáveis e às vezes de grande repercussão.

O que vem causando o aumento dos bipolares? A ciência certamente tem sua explicação. Mas talvez, quem sabe, a causa resida num existir de pouca fé, onde Deus só é lembrado nos momentos de aflição, desespero ou, como diz o matuto, de precisão. O homem deve entrar em reflexão e repensar sobre o mundo do ter. Compreender que o importante é colocar o Senhor no seu existir e lembrar:" Sem Deus no coração, as futuras gerações colocarão em risco a vida no planeta. Por maior que seja o avanço tecnológico da humanidade, impossível que o homem viva em paz sem que a idéia de Deus o inspire em suas decisões" (Chico Xavier).
Onaldo Queiroga.
Escritor e Juiz de Direito.

Esquina da Vida
Capítulo I - Mundo sem porteira
Tudo tem seu apogeu e seu declínio...
Página 19 e 20.

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