sábado, 16 de abril de 2011

Onaldo Queiroga - Prefácio Do Livro Esquinas Da Vida

Quem nunca pensou numa tarde preguiçosa e feriada, no lugar favorito, com o tempo correndo leve e um novo livro para inaugurar? O cronista é uma pessoa que elabora esse mundo mágico, servido aos poucos com o prazer de trechos curtos na viagem de férias. Onaldo passa essa sensação nas crônicas do seu segundo livro. Reúne lembranças onde os sons, as cores, os perfumes e gostos são quase palpáveis. O romancista tem o espaço que quer para tecer sua teia de atrações. O cronista tem a folha em branco para escrever uma história e prender o leitor até o fim, espicaçando a sua curiosidade. Há que ser muito bom, porque a crônica é uma espécie de paixão declarada (ou escondida) de muita gente que ama o gênero através das épocas. De séculos atrás, quando os dias corriam calmamente, até hoje, quando tudo é veloz, voa, corre demais.

No primeiro livro Onaldo já se apresentava com o talento dos cronistas que vêm para ficar. Neste segundo, volta a escupir instantes numa lauda. Pode ir de uma foto chocante no jornal à dor da saudade de um ente querido que se foi. Escreve sobre a tristeza de ver desmoronando a delicada arquitetura do convívio humano ou a alegria da música que salva o tempo perdido. Antigas recordações da infância, na pequena cidade onde cresceu, trazem de volta os perigos e as aventuras no descobrir da vida.

Para onde foram as tribos, criaturas que parecem ter-se esvaído no ar? Aonde nos levará o canto da sereia do progresso tecnológico que cria necessidades de consumo e poucos bálsamos para a sede e fome do espírito? Essas perguntas são temas recorrentes no livro de Onaldo. Elas obrigam o leitor a parar, olhar para o infinito e refletir se ainda há tempo para desviar a caminhada que leva a humanidade para o seu fim. A dor ensina a instigar o pensamento, hoje eclipsado pela colorida onda da visão de vida, sempre distância, virtuais, na televisão e computadores.

O cronista dirige seu olhar investigativo para tudo com o coração que não consegue se esconder nem esconder a esperança de que um dia a vida volte a ser o que sempre foi: um milagre natural, belo, bom e verdadeiro. É o coração de um romântico, realista, adaptado à informação e à cultura do mundo globalizado onde o que acontece se espalha, em tempo real, para quase todo o planeta. O cronista se ocupa do "quase", dos milhões de exluídos, dos párias modernos que ficam à margem da construção do futuro. Um futuro que só seria justo se fosse feito por todos. Os sonhos de humanidade de Onaldo estão prontos para ser conhecidos pelo leitor, que os sentirá página por página, degustadas como quem toma um grande vinho. Como disse o poeta " um livro oferece à pessoa o prazer de estar só e, ao mesmo tempo, bem acompanhada: duas delícias juntas". Em conclusão, um livro, também, pode ser uma festa.

Márcio Roberto Soares Ferreira.
Historiador
Secretário da Presidência do
Tribunal de Justiça da Paraíba.

Esquinas da Vida
Escritor Onaldo Queiroga.
Páginas 11 e 12.

Nenhum comentário:

Postar um comentário