segunda-feira, 25 de abril de 2011

Onaldo Queiroga - A Última Fronteira Da Liberdade



um conto-uma crônica
Vasculhando a história da humanidade, encontramos registros diversos de tirania. O alucinante fascínio pela conquista do poder, pela expansão do território a ser ocupado e controlado por um só povo, que se considera superior aos demais, fez com que uma legião de inocentes fossem sacrificados, dizimando, assim, vidas e culturas.

Tiranos, de uma forma ou de outra, são sempre tiranos. Esmagam direitos democráticos como o de ir e vir, o da livre manifestação de pensamento, das sugestões e proposições para um caminho que possa levar todos a uma convivência harmoniosa.

Os tiranos censuram a poesia, a literatura, as artes plásticas e a música. Silenciam o cantar dos repentistas e incineram jornais, revistas e livros. Não aceitam o contraponto manifesto ao quadro que não agrada, incomoda, amordaça e trucida.

A ira, certas vezes, é tão intensa que o ditador, em seu insano egocentrismo, não consegue alcançar a crítica subliminar que o poeta, com seus contornos hipnóticos, insere em seus verssos lépidos e rebeldes. Num passado não muito distante, a repressão que se instalou no Brasil não percebeu a crítica engenhosa formulada por Chico Buarque ao compor

" Cálice":

"Pai afasta de mim esse cálice
De vinho tinto de sangue.

Como beber dessa bebida amarga,
Tragar a dor, engolir a labuta.
Mesmo calada a boca, resta peito,
Silêncio na cidade não se escuta.
De que me vale ser filho da santa,
Melhor seria ser filho da outra.
Outra realidade menos morta,
Tanta mentira, tanta força bruta.

Como é difícil acordar calado,
Se na calada da noite eu me dano.
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado.
Esse silêncio todo me atordoa,
Atordoada eu permaneço atento.
Na arquibancada para a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa..."

Mas, há algo que Deus criou e que jamais o ser humano, com o seu ímpeto ditatorial, conseguirá controlar. Esse algo, consistente numa atividade psíquica que abarca os fenômenos cognitivos, distinguindo-se do sentimento e da vontade, é conhecido por todos como "pensamento". É mistério exclusivo de cada mente humana e de sua respectiva alma.

Já dissera, que o pensamento é a expressão mais palpável do espírito humano e, por isso, ele é visto como o aspecto que distingue o homem dos demais seres vivos. O pensar está muito além do raciocínio, do organizar idéias e até mesmo das lembranças boas e ruins. Nas asas do pensamento você consegue voar por sonhos que a realidade jamais permitiria. Um tirano pode ficar frente a frente com qualquer pessoa, mas nunca conseguirá saber o que ela está pensando. O pensamento é a última fronteira da insondável liberdade do ser humano. Vamos exercitar o pensamento, eliminar as maledicências e cultuar a solidariedade.

Onaldo Queiroga
Escritor e Juiz de Direito.

Esquinas da Vida.
Capítulo I - O Mundo sem Porteira
Tudo tem seu apogeu e seu declínio...
Página 27 e 28

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