Onélia Queiroga -O Elevador
um conto-uma crônica
Os dois rapazes seguiam a passos largos pelas ruas do centro da grande metrópole. Nos braços carregavam os livros de Direito, embora nem sempre fosse preciso. Porém, os conduziam assim mesmo, mais por exibição do que por necessidade de usá-los durante as aulas.
Brincalhões, sorridentes, faziam do tempo de folga uma festa. Tudo era motivo para diversão e transmissão de notícias enganosas aos conterrâneos. Apesar de folgazões, dedicavam-se aos estudos, com muita seriedade, alçando-os à categora de prioridade absoluta.
Os dois moços, com visão de futuro, matricularam-se no curso de extensão, ministrado por professor da Província, de reconhecido saber jurídico. Essa foi uma fase de muita produtividade acadêmica e jurídico-cultural, embora o investimento extra tenha adicionado mais gastos às despesas dos pais.
O que também fê-los sentirem-se agradecidos com o curso foi aquela oportunidade rara de conhecer e andar de elevador, de porta de ferro sanfonada, para a época, um invento e tanto. O elevador funcionava com muito barulho e estonteante sacolejado. Por isso, às vezes, metia-lhes medo. E foi com esse estado de ânimo, aliado ao de pândega, próprio da juventude, que decidiram pregar uma brincadeira aos ocupantes do elevador, lotado naquele momento.
Fechada a porta, o primeiro deles, fazendo-se de temeroso, disse, em voz alta: - Este elevador está cheio demais! Vai quebrar! O outro entrou, de imediato, em cena, com o mesmo tom de voz e falou: - Eu só acredito que Deus existe, se este elevador quebrar mesmo.
Esse teatro assim encenado foi suficiente para provocar a revolta dos ocupantes. Um deles, indignado com a blasfêmia, vociferou: - Cala esta boca, seu herege! Outro, de dedo em riste, acrescentou: - Você, seu cabrito, não tem medo dos castigos de Deus?
Os dois acadêmicos só não apanharam, porque o elevador abriu-se e todos se dispersaram. O efeito negativo da brincadeira foi tão forte no espírito dos dois rapazes que a Deus pediram perdão e fizeram penitência por muito tempo, para os livrarem de um castigo.
Onélia Setúbal Rocha de Queiroga.
Escritora e Professora de Ciências Jurídicas
da Faculdade de Direito da UFPB.
Colunista do Caderno 2, página Cultura,
do jornal “ Correio da Paraíba”.
Histórias Orbícolas.
Páginas 27, 28 e 29
Nenhum comentário:
Postar um comentário