um conto-uma crônica
Chegara otimista à terra natal. A ausência de cinco anos não o fizera esquecer a escolhida do seu destino. Pronto viera para casar e, junto com a mulher, regressar à capital paulista.
Na cidadezinha de poucos habitantes, à boca pequena, o assunto andava de casa em casa.- Homem fiel, diziam satisfeitas as amigas da noiva. - Homem tolo, comentavam as inimigas ocultas. Nesses encontros e desencontros, o horóscopo armara o traçado do caminho avesso.
Correram os banhos na igreja; publicaram-se os proclamas. Tudo acertado na lei de Deus e na lei dos homens, exceto na lei de um homem: o cunhado, Agenor. Ao saber do casamento da irmã da esposa, revoltara-se. Para ele, era falta de consideração não ter sido comunicado, com muita antecedência, da realização das bodas. Assim, de improviso, não tinha como dar aos noivos a festa que mereciam, principalmente, à cunhada Lívia, que há anos em sua casa morava. Seria chamado de mesquinho, se nada oferecesse aos nubentes.
A aflição do cunhado, para Lívia, era incômodo sem relevância. Vaidade que não justificava o adiamento da cerimônia. Por isso, continuou com os preparativos. A reação de Agenor deixou dúvida acerca do motivo real do seu desespero. A festa, em si, não provocaria, jamais, decisão tão radical. O inconformado homem obrigou a esposa a ir à casa dos pais do noivo informar o que a noiva nunca dissera, nem autorizara: desmanchar o casamento sob o simplório argumento de não mais querer casar. A decisão era definitiva, não a procurasse para fazê-la voltar atrás.
Anacleto, em tempo recorde, tomou as providências necessárias, na igreja e no cartório. Voltou ao Sul, nas caladas da noite, para evitar a exploração local. Atônita, Lívia procurava uma razão para a fuga inesperada do noivo. Soube-a através dos quase sogros e cunhados. Desfez o equívoco, mas era tarde, o noivo partira para sempre. Casou com outra, não foi feliz. Ela, atingida por dupla traição, afastou-se da irmã e do cunhado; ficou solteira e carrega no peito a dor da solidão e da misteriosa atitude de Agenor.
Onélia Setúbal Rocha de Queiroga.
Escritora e Professora de Ciências Jurídicas
da Faculdade de Direito da UFPB.
Colunista do Caderno 2, página Cultura,
do jornal “ Correio da Paraíba”.
Histórias Orbícolas.
Páginas 33, 34 e 35.
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