Onélia Queiroga - Prefácio Do Livro Histórias Orbícolas - Continuação

Em nenhuma narrativa, porém, recorre a autora ao devaneio fútil e sem sentido, ou ao recurso apelativo para atrair leitores. O livro fala de acontecimentos que povoam a vida de qualquer leitor. Alguns dão azo a reflexões sobre comportamento que, por sua rejeição diante da natureza humana, facilmente aderem à memória de quem o lê, não o esquecendo jamais. É o que se infere da leitura de "A luz chegou com a pensão".

O livro em apreço, não raras vezes, fala de acontecimentos e analisa fatos que parecem conhecidos nossos, tamanha é a coincidência das circunstâncias que envolvem o caso. Vemos essa identidade em "Sonorização", "Espera na ante-sala", "O dinheiro", "O vôo mais longo" e outras mais crônicas.

Às vezes, a autora aparece como uma aconselhadora convincente como em "Perigo no trânsito", "Comprar e comer melhor para viver bem", "Ter para viver" e outros de recomendações inferidas.

Porém, é impossível não destacar, pelo sabor agradável da narrativa ou pelo inesperado desfecho, as crônicas "Fâmula", "O terceiro Rei Mago", "Folião vencido" e o "O criado-mudo". A leitura da crônica "Creme de nata" trouxe à memória fato semelhante ocorrido com uma amiga que transportava na bagagem um depósito doméstico contendo gostoso doce de leite, mas que, com o trepidar dos pneus na estrada sem asfalto, desprendeu a tampa e derramou todo o conteúdo sobre a cabeça de uma jovem passageira. A proprietária do doce derramado, minha amiga, encolheu-se, não se identificou para não ser acoimada de irresponsável e idiota.

Temos, assim, mais uma obra a se reunir às demais da minha amiga Onélia que avança cada vez mais na formulação de novas idéias, na ampliação de sua inesgotável imaginação e no conceito de bons narradores de nossa realidade.

Entregar-se à leitura de "Histórias Orbícolas" é uma oportunidade rara e inadiável de fugir um pouco dos estressantes viveres do cotidiano para deleitar-se em um agradável passeio no mundo de amenidades.

Maria do Livramento Bezerra
Professora.

Histórias Orbícolas
Onaldo Queiroga
Páginas 18 e 19.