15 min Portugal
Dona Catita teve cinco filhas.
Ficou viúva muito jovem e nunca mais se casou.
"Preciso cuidar das minhas meninas", dizia toda vez que alguém perguntava se não voltaria a casar.
Ela foi uma mulher muito bonita, respeitável, honrada e muito dedicada ao lar.
Sempre procurava algo para fazer para ganhar algumas moedas extras e dar o necessário para suas filhas.
Muitas vezes deixava suas próprias necessidades de lado. "Primeiro elas", dizia.
Assim passaram os anos.
Três das filhas se formaram professoras, a mais velha se graduou como enfermeira, e a mais nova, que não quis estudar, casou-se ainda muito jovem.
Elas eram o seu orgulho, mulheres lindas como a mãe havia sido.
O tempo foi passando, e, uma a uma, seguiram suas vidas. Foram embora da cidade, formaram suas famílias, mas esqueceram da mãe, da Dona Catita, que todas as tardes saía à porta para ver se, por acaso, alguma das filhas vinha visitá-la.
Um dia, ela caiu de cama, mas não havia ninguém para ajudá-la.
"Somos só você e eu", dizia ao seu gato, enquanto suspirava. "Só você e eu, Jacinto".
Parecia que Jacinto entendia o que ela sentia, sua tristeza, sua dor de mãe.
A cada dia que passava, Dona Catita ia se apagando, pouco a pouco, até que um dia um vizinho a encontrou abraçada ao seu gato.
Dona Catita havia partido enquanto dormia.
O fiel Jacinto permaneceu ao lado dela até o fim.
Suas filhas foram chegando uma a uma à humilde casinha de Dona Catita.
Todas vestidas de preto, com grandes óculos escuros. Gritavam e se abraçavam ao redor do caixão.
"Agora para quê?", comentou uma vizinha. "Agora para quê?".
Quão feliz ela teria sido se pudesse vê-las virar a esquina, correr até ela e dar-lhe um abraço!
Mas, por mais flores e coroas caras que trouxessem, Dona Catita não se comoveu.
Permanecia ali, imóvel, com aquele gesto de tristeza que a acompanhou em seus últimos anos.
João Nunes Contreiras Jr.
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