quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Dona Catita

15 min  Portugal


Dona Catita teve cinco filhas. 

Ficou viúva muito jovem e nunca mais se casou. 

"Preciso cuidar das minhas meninas", dizia toda vez que alguém perguntava se não voltaria a casar.

Ela foi uma mulher muito bonita, respeitável, honrada e muito dedicada ao lar. 

Sempre procurava algo para fazer para ganhar algumas moedas extras e dar o necessário para suas filhas. 

Muitas vezes deixava suas próprias necessidades de lado. "Primeiro elas", dizia.

Assim passaram os anos. 

Três das filhas se formaram professoras, a mais velha se graduou como enfermeira, e a mais nova, que não quis estudar, casou-se ainda muito jovem.

Elas eram o seu orgulho, mulheres lindas como a mãe havia sido. 

O tempo foi passando, e, uma a uma, seguiram suas vidas. Foram embora da cidade, formaram suas famílias, mas esqueceram da mãe, da Dona Catita, que todas as tardes saía à porta para ver se, por acaso, alguma das filhas vinha visitá-la.

Um dia, ela caiu de cama, mas não havia ninguém para ajudá-la. 

"Somos só você e eu", dizia ao seu gato, enquanto suspirava. "Só você e eu, Jacinto".

Parecia que Jacinto entendia o que ela sentia, sua tristeza, sua dor de mãe. 

A cada dia que passava, Dona Catita ia se apagando, pouco a pouco, até que um dia um vizinho a encontrou abraçada ao seu gato. 

Dona Catita havia partido enquanto dormia. 

O fiel Jacinto permaneceu ao lado dela até o fim.

Suas filhas foram chegando uma a uma à humilde casinha de Dona Catita. 

Todas vestidas de preto, com grandes óculos escuros. Gritavam e se abraçavam ao redor do caixão.

 "Agora para quê?", comentou uma vizinha. "Agora para quê?".

Quão feliz ela teria sido se pudesse vê-las virar a esquina, correr até ela e dar-lhe um abraço! 

Mas, por mais flores e coroas caras que trouxessem, Dona Catita não se comoveu.

Permanecia ali, imóvel, com aquele gesto de tristeza que a acompanhou em seus últimos anos.

João Nunes Contreiras Jr.

Nenhum comentário:

Postar um comentário