Silvana Claudia de Carvalho]Doces sonhos
Parece que a esquina da minha casa resolveu se afastar um pouco mais… Ela já não está ali, perto, mas duas vezes mais longe do que eu lembrava.
E, agora, no meio do caminho, surgiu uma pequena subida que nunca notei antes, como se o chão conspirasse para me lembrar de algo que perdi.
Os degraus da escada? Ah, esses também me pregaram uma peça. Estão mais altos, desafiando-me a cada passo. E quando peço para as pessoas falarem mais claro, percebo que o mundo resolveu sussurrar. Parece que o som se esconde, deixando-me com pedaços de conversas que não posso mais juntar.
Até as roupas, aquelas que sempre gostei, parecem ter encolhido. Principalmente na cintura e nos quadris. Um desconforto novo, que me obriga a aceitar que talvez algo mudou sem que eu tivesse dado permissão.
E as pessoas? Elas também mudaram. Tornaram-se incrivelmente jovens enquanto eu apenas segui sendo eu. E, ironicamente, as pessoas da minha idade envelheceram tanto que, ao reencontrar uma velha amiga, percebi que ela carregava as marcas do tempo ao ponto de nem me reconhecer.
Até os ônibus estão diferentes. Eles passaram a correr mais rápido, como se tivessem pressa de me lembrar que o tempo não me espera.
Parei para refletir sobre tudo isso hoje de manhã, enquanto me olhava no espelho. Curioso como o espelho, que um dia foi tão claro, hoje parece enevoado, como se também ele tivesse mudado sua perspectiva sobre mim.
Talvez seja esse o recado sutil do tempo:
que vale mais gastar os minutos com amigos do que perder amigos com o passar dos minutos.
Afinal, tudo à nossa volta muda, mas as lembranças e os afetos, esses sim, são as marcas que podemos escolher deixar — nítidas e verdadeiras, como espelhos antigos que guardam nossa essência.
Sunshine Sunshine
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