domingo, 21 de abril de 2024

Guardei dentro de mim




Mistura Fina

Guardei dentro de mim as cores daqueles dias, pra que eu pudesse colorir meu caminho toda vez que o céu mudasse de cor.

O cheiro fresco do capim orvalhado ainda está nos meus pulmões.

Era bonito ver o sol se levantando e a vida acontecendo, e eu, namorando as flores, não percebia a aspereza dos dias que, para mim, eram eternos.

As cercas com flores miúdas, num caminho de capim baixo, levava ao pequeno riacho, onde tantas vezes me banhe. 

Tiinha gosto de vida aquele lugar.

Havia sonhos no varal, luas, vaga-lumes e estrelas, colhidos nas noites quentes.

As panelas sobre o fogão, o cheiro do feijão de mãe, o pai na curva da estrada, diziam que era hora de matar a fome, e rir com os irmãos, e saciar a alma.

Eram tempos áridos aqueles, mas como poderia haver tristeza, se o céu azulado era a coisa mais bonita de se vê?

Eu ainda estou lá, na beira do rio, com o pé fincado na areia molhada, olhando as folhas que as águas levam.

Há canção de vento dentro de mim.

Eu ainda estou lá.

-Eunice Ramos

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