segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Rubens Nóbrega - O Presépio

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um conto - uma crônica

Foi lindo. Assim que o sol se escondeu, as luzes acenderam o Natal. Reparei na cara de Davi, que acabara de largar a minha mão num reflexo, como se a chave de ligar a iluminação também lhe tivesse acionado a liberdade de correr para onde achasse mais bonito.

Mas ele não saiu do meu lado. Parecia indeciso. Seguramente deslumbrado, realmente maravilhado. Não conseguia escolher o que olhar primeiro ou mais de perto. Mirava a manjedoura e a mulher segurando o bebê, os dois rodeados por um homem com jeito de pai, outro casal, um bezerro, duas ovelhas e uma peça menor que a minha vista cansada não sabia definir, se um galo ou uma galinha.

De repente, Davi passou a apontar para Melquior, Baltazar e Gaspar. Mais um pouco alteou um pouco mais o braço direito e fez o seu indicador alcançar a estrela de Belém. Voltou, então, para a cena da natividade e nela se concentrou. Tudo aquilo era tudo o que mais importava. Nem os aplausos nem os acordes da bandinha nem as vozes dos meninos do coral interessavam. Seu foco não se desviava das luzinhas e das figuras que elas contornavam.

- Olha, vô, olha! - passou a dizer a todo instante, a cada figura que lhe chamava a atenção, sem dar ao seu companheiro de alumbramento a chance de cumprimentar as pessoas em volta, muito menos explicar o significado do presépio e de que fora feito todo aquele conjunto magistralmente trabalhado, delineado e montado com material reciclado.

Minha intenção era dar ênfase àquele detalhe, para subliminarmente também dizer que ele tinha um avô ecologicamente correto. Mas, antes que eu encontrasse brecha no entusiasmo do menino, ele tomou a minha mão novamente e me puxou para mais adiante, levando-me a outro canteiro da praça onde havia uma carroça puxada por um burrico e guiada por um homem com jeito de operário, tendo ao lado um menino.

- Eles tão indo pra lá, vô? - perguntou-me, enquanto apontava na direção de onde a gente estava antes. Respondi que sim, achando a pergunta engraçada e ao mesmo tempo muito inteligente, de um significado extraordinário. Vai ver, a intenção de quem montou o presépio era aquela mesmo: pai e filho - poderia ser avô e neto, claro! - viajando de carroça ao encontrto do destino da humanidade.

Rubens Nóbrega
Jornalista

Publicada no Jornal Correio da Paraíba
Edição 05/12/2010

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