segunda-feira, 29 de abril de 2013

Paulo Coelho - O Conto, O Fato E A Reflexão


um conto - uma crônica

O iogue Raman era um verdadeiro mestre na arte do arco e flecha. Certa manhã, ele convidou seu discípulo mais querido para assistir a uma demonstração do seu talento. O discípulo já vira aquilo mais de cem vezes, mas mesmo assim, obedeceu ao mestre.

Foram para o bosque ao lado do mosteiro. Ao chegarem diante de um belo carvalho, Raman pegou uma das flores que trazia no colar, e colocou-a num dos ramos da árvore. 

Em seguida, abriu o alforje e retirou três objetos: um magnifico arco de madeira preciosa, uma flecha e um lenço branco, todo bordado em lilás.

O iogue então se posicionou a uma distância de cem passos da árvore de frente para o alvo, e pediu ao discípulo que o vendasse com o lenço.

O discípulo fez o que o mestre ordenara.

"Quantas vezes você já me viu praticar o nobre e antigo esporte do arco e flecha?" - perguntou

"Todos os dias", respondeu o discípulo. "E sempre o vi acertar na rosa, a uma distância de trezentos passos".

Com os olhos cobertos pelo lenço, o iogue Raman firmou ao pés na terra, distendeu o arco com toda a sua energia - apontando na direção da rosa colocada num dos ramos do carvalho - e disparou.

A flecha cortou o ar, provocando um silvo agudo, mas sem atingir a árvore, errando o alvo por uma distância constrangedora.

"Acertei?" disse Raman, retirando o lenço que cobria os olhos.

"O senhor errou, e por uma grande margem", respondeu o discípulo.

"Achei que ia me mostrar o poder do pensamento, e sua capacidade de fazer mágicas".

"Eu lhe dei a lição mais importante sobre o poder do pensamento", respondeu Raman:

"Quando desejar uma coisa concentre-se apenas nela. Ninguém jamais será capaz de atingir um alvo que não consegue ver".

O Fato

O jornalista francês Frédéric Lenoir perguntou ao sociólogo ateu Jacques Ellul, se é possível viver numa sociedade onde se consiga ignorar por completo a ideia de religião.

-Nós podemos dizer: "Se Deus não existe, então não há porque se preocupar com religião". Entretanto, resta o problema do se. Ninguém garante que Deus existe, mas também não afirma a sua inexistência. A escolha espiritual passa a ser uma aposta. Eu não creio, o abade Pierre crê. 

Qual seria o propósito desta discussão, já que  ambos procuramos ajudar na criação de um mundo melhor?

A Reflexão

De Robin Sharma (em "O monge que vendeu sua Ferrari"):

Existe uma simples palavra que sintetiza todo o sentido da vida. Ela é a Paixão. Devemos carregá-la escrita na testa, a cada minuto do dia, porque é o fogo sagrado da Paixão o combustível mais potente dos nossos sonhos. A sociedade se empenha em minimizar o sentido dessa palavra, mas nós devemos lutar para mantê-la viva.

Se quisermos ter uma vida miserável, devemos renunciar às coisas pelas quais somos apaixonados, e passar a trabalhar por obrigação.

Eu não estou me referindo à paixão romântica - embora isso também seja importante para uma existência inspirada - e sim em permitir que o entusiasmo penetre em tudo o que fizermos. Quando isto acontece, não pensamos em passado ou futuro: pensamos no que se passa conosco naquele momento.

Paulo Coelho é  escritor e letrista

Publicada no jornal Correio da Paraíba
Página Milenium
21/04/2013

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