sábado, 14 de setembro de 2013

Astier Basílio - Os Artistas Vão À Rua


A atriz Vanja Orico enfrenta o exército, em 1968: "Somos todos brasileiros" 

No Brasil, contra a ditadura e pela Diretas Já; Na França, no Maio de 1968: a arte nas manifestações.

A julgar pelas passeatas que estão acontecendo em todo o Brasil, poderíamos completar o pensamento do historiador britânico Eric Hobsbawn (1917-2012), dizendo que o sentimentos se prorrogará por vários dias. 

O texto citado na abertura é de Tempos Interessantes: uma Visão do Século XX e na ocasião, Hobsbawn fazia referência à última manifestação contra o nazismo, ocorrida em Berlim, em 1933, e serve bem para ilustrar a apoteose de passeatas sem líderes e com participação da juventude conectada nas redes sociais iniciada a partir do protesto contra aumentos das passagens de ônibus.

A agenda de reivindicação ampliou-se para temas como corrupção, mau gerenciamento da Copa do Mundo, melhores serviços públicos. A onda vem tomando conta das principais cidades brasileiras. Outros momentos de manifestação popular no Brasil tiveram participação marcantes de artistas - com sua arte e mesmo nas ruas, entre a multidão. Amanhã será a vez de joão Pessoa.

Na foto que ilustra a capa desta matéria, a atriz Vanja Orico está em frente às tropas do Exército, em protesto contra o regime militar. Ela disse: "Não atire, somos todos brasileiros". Uma das mais famosas passeatas contra a ditadura foi a passeata dos Cem Mil, em cuja multidão esteve nomes importantes da cultura como Caetano Veloso, Chico Buarque, Oscar Niemeyer.

Quem mudou de opinião, a respeito das passeatas da atualidade, foi o cineasta e comentarista Arnaldo Jabor. Em 1968, o grande reacionário do jornalismo brasileiro era o dramaturgo Nelson Rodrigues. Sobre as manifestações contra o regime, que ele apoiou, chegou a criar expressões formidáveis como "os padres de passeata". Nelson chegou a dizer:" Há, em qualquer brasileiro, uma alma de cachorro de batalhão". E completou: "Passa o batalhão e o cachorro vai atrás. Do mesmo modo, o brasileiro adere a qualquer passeata. Aí está um traço do caráter nacional".

Participando

Elza Soares e Luiza Possi fizeram referência em shows e artistas foram à passeata no Rio.

Elza Soares, em show realizado semana que passou, ao interpretar "Opinião", samba de Zé Keti, introduziu o improviso: "20 centavos, eu não pago não!" No Rio, atores como Bruno Gagliasso, Fernanda Rodrigues e Thaila Ayala foram vistos na passeata - novamente, de 100 mil. Fernanda Montenegro deu declaração em apoio à manifestação, dizendo que não é partidária, "mas de reivindicação da essência do que o Brasil precisa: escola, saneamento, liberdade de expressão". A paraibana Mayana Neiva participou de um ensaio fotográfico contra a violência da polícia. Luiza Possi fez show em São Paulo segunda usando branco.

Nas manifestações atuais não há palanque armado, líderes, nem políticos ou artistas discursando como antes, a exemplo de Fafá de Belém e sua emblemática interpretação do Hino Nacional, no movimento das Diretas Já, em 1984.

Em maio de 1968, na França , período que vem sido evocado como referência ao que está acontecendo hoje, os cineastas, capitaneados por Jean-Luc Godard e François Truffaut resolveram parar a edição daquele ano do Festival de Cannes. "Vocês estão interessados em falar sobre 'travelling' enquanto que nas ruas há algo muito mais interessante acontecendo", bradou, em uma das assembleias, o autor de Acossado.

E se é possível demarcar uma trilha sonora das passeatas, certamente, a canção "Para dizer que não falei das flores", do paraibano Geraldo Vandré, é quase uma espécie de hino não-oficial de qualquer protesto desde que espocou no Festival Internacional da Canção de 1968...    





Os artistas nas ruas: Carlos Scilar, Clarice Lispector, Oscar Niemeyer, Glauce Rocha, Ziraldo e Milton Nascimento marcham contra a ditadura.

Assim como Gilberto Gil, Torquato e Nana Caymmi


Jean-Luc Godard e François Truffaut provocaram o cancelamento do Festival de Cannes em solidariedade aos estudantes de maio de 1968.

Fafá de Belém se tornou a intérprete oficial do Hino Nacional nas Diretas Já.

Movimento com participação maciça de artistas, como Chico Buarque

Por Astier Basílio

Publicado no jornal Correio da Paraíba
Caderno 2 C1
Edição de 19 de junho de 2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário