um conto-uma crônia
O tempo passou. Por onde anda Vandré? Ainda compõe e canta? Diante de tanta corrupção e injustiça reinando no mundo chamado Brasil, sem dúvida suas canções continuam acompanhando esse mesmo tempo e, por isso, permanecem atuais.
Outrora, suas músicas emergiam de um coração jovem, cheio de amor, de sonhos, esperanças e de coragem para enfrentar cavalarias e canhões. Com o tom de protesto, a música "Pra não dizer que não falei das flores" ("Caminhando e Cantado") levou multidões às ruas do País. Operários e estudantes caminhavam e gritavam: "Vem, vamos embora que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora não espera acontecer". A ditadura se foi, os militares se recolheram aos quartéis, veio a tão decantada e almejada democracia. Contudo, se de um lado, hoje, há a liberdade de expressão, o direito de ir e vir e, tantos outros direitos consagrados pela Constituição de 1988, de outra banda, a corrupção cresceu de mãos dadas com a violência, gerando uma nebulosa sensação de impunidade.
A pedra virou vidraça. Cada um que governa vende um mundo irreal. Na propaganda bem produzida pelas agências publicitárias, a mensagem para o povo de que a inflação está sob controle, os índices de violência baixando mês a mês, de que os salários são gordos, são bolsas disso, daquilo e mais alguma coisa. Qual a diferença do Brasil da copa de 1970 para o Brasil da copa de 2014? Na primeira, eu tinha quatro anos. Sei que as ruas estavam cheias de manifestantes que cobravam a derrubada dos militares. Hoje, há indícios de que as ruas também estarão tomadas por pessoas protestando. Ontem, só havia rádio e TV. Hoje, acrescente-se a massificação da comunicação por meio das redes sociais: Face, Instagram, Twitter e Whatsapp, etc.
No regime de exceção, Vandré cantou o seu "Pequeno Concerto que Virou Canção", que dizia: "Não. Não há por que mentir ou esconder a dor que foi maior do que é capaz meu coração. Não, nem há por que seguir cantando só para explicar. Não, não vai entender de amor, quem nunca soube amar. Ah! eu vou voltar para mim, seguir sozinho assim, até me consumir ou consumir toda essa dor. Até sentir de novo o coração capaz de amor". Imaginem o Brasil de hoje! Mergulhado nesse emaranhado de desacertos... Por isso, prefiro ainda ouvir de Vandré seu "Réquiem para matraca", em que ele entoa: " Vim aqui só pra dizer. Ninguém há de me calar. Se alguém tem que morrer, que seja pra melhorar. Tanta vida pra viver. Tanta vida a se acabar. Com tanto pra se fazer. Com tanto pra se salvar. Você que não entender, não perde por esperar".
Formador da consciência de várias gerações, suas canções falam em tom libertário contra gestores descompromissados, que se renovam no tempo, mudando apenas de CPF. Viva Vandré!
Onaldo Queiroga é juiz de Direito
Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 31 de maio de 2014
Opinião
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