terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Germano Romero - Seja Apenas Um Rastro De Luz




Um conto-uma crônica

Nenhuma lição é mais proveitosa para o crescimento humano, pessoal e espiritual do que a do desapego. Claro que não é fácil. Talvez seja a mais difícil. No entanto, não restam dúvidas de que é a maneira mais eficaz de evoluir.

O desapego se consegue paulatinamente, a partir da reflexão, da observação da natureza e das mensagens que nela estão implícitas, e muitas vezes explícitas. A mais nítida é a da transitoriedade das coisas. Galáxias, astros, luas, estrelas, auroras e alvoradas,tudo parece e desaparece no turbilhão cósmico. Vegetais, minerais e animais estão sempre se transformando, nascendo, crescendo, morrendo, reencarnando. É a vida efêmera que com o tempo se esvai. O tempo que ninguém segura, que não teve começo, nem fim, apenas passa, como tudo que desfila na passarela da existência.

Da próxima vez que você mirar uma estrela distante, no céu de uma linda noite, lembre-se de que ela pode nem mais existir. O brilho que ora enxergamos percorreu anos-luz até chegar aos nossos olhos. E como todas as estrelas nascem e morrem, o céu que vemos numa abóbada iluminada é sempre uma imagem do passado.

Essa brevidade no  transcorrer dos instantes, que tece o ritmo da vida em tudo o que vemos e sentimos, nos cabelos que embranquecem, nas rugas que chegam, nas folhas que caem, no bem-te-vi que canta, no dia que raia, na tarde que vira noite, no vento, na lua, nas ondas do mar, está sempre a nos ensinar a lição do desapego. A nos conscientizar de que tudo passa, de que aquilo que o mundo nos empresta para usufruto temporário, mesmo as pessoas e as coisas que mais amamos e julgamos nossas, na verdade não nos pertencem. Nas mãos de outrem, e em outros planos, em breve, estarão.

Lembre de que você e sua consciência serão seus únicos companheiros permanentes na jornada do existir. Seu corpo, seus olhos azuis, seus cabelos lisos, seu carro novo, sua casa de campo, todas essas coisas serão transferidas e transformadas pelo tempo. Comece a nutrir o sentimento do desapego por tudo que passa e fica. Valorize as coisas que daqui levará, quando voar livre como um pássaro, que só têm os ninhos como abrigos, mas o Universo como morada.

E nunca esqueça de que só as lembranças em sua consciência continuarão a brilhar com você, mesmo ao morrer, como a estrela que parte, mas deixa no céu o seu rastro de luz.

Germano Romero é arquiteto e bacharel em música.

Publicada no jornal Correio da Paraíba
Edição de 10 de julho de 2015.
Opinião

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