Se eu tivesse a minha vida para viver novamente…

Pedaços de mim

Eu teria falado menos e ouvido mais atentamente. 

Teria aberto as portas de minha casa aos amigos, sem me importar com o tapete manchado ou o sofá desbotado, porque as memórias importam mais do que a aparência.

Teria saboreado as pipocas no melhor lugar da casa, sem medo das migalhas, e me preocupado menos com a perfeição quando acendíamos uma fogueira para aquecer a alma.

Teria parado para ouvir, sem pressa, as histórias do meu avô sobre tempos que já se foram, porque cada palavra era um pedaço da sua eternidade.

Nunca teria me incomodado em fechar as janelas do carro num dia quente de verão, apenas para preservar um penteado que logo se desfaria de qualquer maneira. 

Deixaria o vento me despentear, lembrando que a liberdade vale mais do que a vaidade.

Eu teria acendido a vela rosa, esculpida com tanto carinho, antes que derretesse esquecida num canto.

Porque a vida é para ser vivida, não armazenada.

Eu teria me deitado na grama com meus filhos, sem temer as manchas, sabendo que esses momentos nunca se apagam do coração.

Teria rido e chorado menos com a televisão e mais com as pequenas alegrias e tristezas da vida, que são reais, intensas e passageiras.

Quando estivesse doente, teria me permitido descansar, sem achar que o mundo pararia por minha causa. Afinal, a verdadeira força está em saber quando é hora de parar.

Eu nunca teria comprado coisas só porque eram práticas ou garantidas para durar. 

Teria preferido o que trazia alegria ao meu coração, mesmo que fosse efêmero.

Se pudesse reviver a gravidez, não teria desejado que os meses passassem mais rápido. 

Teria celebrado cada segundo, consciente de que aquele milagre era a única chance de participar da criação de um novo mundo.

Quando meus filhos vinham correndo para me beijar, nunca teria dito: “Depois, mais tarde…”. Teria aceitado cada beijo como um presente único, pois o tempo nunca volta.

Teria dito mais “eu te amo” e pedido mais desculpas. 

Teria expressado, sem medo, cada sentimento que meu coração guardava.

Mas, acima de tudo, se eu pudesse viver minha vida novamente, eu teria saboreado cada minuto… olhado cada instante nos olhos, vivido intensamente e segurado cada momento com as duas mãos, sem jamais querer devolvê-lo.

Erma Bombeck, 1979