Edlena Ledesma
Amor e Luz
Chamo-me Olívia, tenho 68 anos e moro em Évora. É uma cidade pequena, onde cada rua me traz lembranças.
Aqui vivi toda a minha vida — aqui me casei, aqui criei meus filhos, aqui enterrei o meu marido e, por fim, foi aqui que aprendi a dizer “não”, até mesmo àqueles que amo mais do que tudo — os meus filhos.
Quando Mateus e Clara eram pequenos, eu era aquela mãe que fazia tudo pela família. Trabalhava numa oficina de costura, às vezes em dois turnos, só para garantir que nada faltasse às crianças.
O meu marido, Joaquim, era um homem bondoso, mas pouco atento — todas as tarefas da casa e a educação dos filhos ficavam por minha conta.
Mateus adoecia com frequência, Clara tinha dificuldades na escola, e eu estava sempre a correr, a resolver, a ensinar, a proteger, a salvar. Eu era uma mãe-salvadora.
Quando cresceram, os problemas não diminuíram — apenas mudaram. Mateus entrou na universidade, mas desistiu. Clara apaixonou-se cedo, casou-se jovem e teve dois filhos.
Ambos viviam de forma irresponsável, mas sabiam de uma coisa — a mãe ajudaria. E eu ajudava.
Comprei o primeiro carro para o Mateus e, quando ele se endividou, entreguei-lhe todas as minhas economias.
Quando Clara se separou, voltou para minha casa com os filhos — vivíamos todos juntos num apartamento de dois quartos.
Quando precisei de uma cirurgia — calei-me. Quando estava exausta — bebia café e chorava em silêncio no travesseiro, para que ninguém visse.
Tudo mudou numa noite de inverno.
Sentia-me muito mal: cansaço, tensão alta, o coração disparado. Chamei o INEM, e a jovem médica disse com firmeza:
— A senhora está a viver a vida dos outros.
Se quer viver mais alguns anos, comece a pensar em si.
Nessa noite, fiquei muito tempo à janela a olhar as luzes da rua. E só pensava: onde está a minha vida? Quando foi a última vez que vivi por mim, e não pelos outros?
No dia seguinte, chamei o Mateus e a Clara. Sentámo-nos na cozinha. E, pela primeira vez na vida, disse:
— Amo-vos muito. Mas já não posso continuar a salvar-vos. Já não quero.
Clara chorou. Mateus ficou em silêncio. Estavam chocados — eu sempre fora aquela que aguentava tudo. Mas eu estava cansada de ser a única que se mantinha firme quando todos os outros caíam.
A partir desse dia, tudo começou a mudar.
Clara alugou um pequeno apartamento com os filhos. Mateus passou a gerir as próprias finanças.
E eu? Comecei a viver — devagar, com simplicidade, mas a viver. Participo num grupo de bordado, leio na biblioteca, passeio pelo Jardim Público. Às vezes faço um bolo — só para mim. Apenas para mim.
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