quarta-feira, 27 de abril de 2011

Onélia Queiroga - A Espera Na Ante-Sala



UM CONTO-UMA CRÔNICA


Nada mais enfadonho e chato do que esperar em ante-sala. A audiência era às 11:00 horas; chegara às 10:00, por ser adepto de horários certos. Trinta minutos depois, nada.Nesse ínterim, salvaram-no do sono os jornais. Lera os locais e um de Pernambuco. Inteirara-se de muita coisa, a começar do fantasma da criança, andando pelos corredores de um banco na Argentina, com uma boneca nos braços.

Lera o artigo de Carlos Romero, torcendo pelo Palmeiras contra o Vasco, com medo de que o seu jardineiro palmeirense, derrotado, extreminasse as flores do seu jardim. O mestre não lera, como ele, aquelas páginas de esportes, com o Vasco liderando a competição do Troféu Brasil de Natação, com superior vantagem de 1.275 pontos contra 790 do rival Flamengo, e a dos 200 metros livres, a mais esperada pela torcida, que só deu Vasco. Vira Guga entregando a raquete a FHC, em Florianópolis, , na Fórmula I, Rubinho aceitando ser escudeiro.

Nas "Alternativas Literárias" de Ascendino Leite, soube da conferência de Wellington Aguiar, na Aliança Francesa. Lera a homenagem a Isabel Burity prestada pela orquestra coral sinfônicos, para lembrar os dez anos da sua partida. Lera também a série histórica 44, dedicada a João Agripino, figura célebre do século; a criação de Universidade ligada ao Shopping de Recife. Que tempos, heim? O educar buscando lucros incessantes?Lera o roteiro de cinema, exposições, eventos, dentre estes, o Musical Guarani e Acústico. Restavam os classificados e propagandas. Naqueles, venda e aluguel de imóveis, de veículos novos e usados, com ar-condicionado grátis e vantagens. Nestas, uma deveras interessante, inspirada no velhinho de barba branca e gorro vermelho, assim expressa: "Papai Noel existe!!". Não pode passar à segunda, porque uma voz chamou-0: - Chegou a sua vez.

Tivera uma vontade enorme de dizer - Chegou tarde, e Inês é morta! Contudo, mais aculturado do que chegara, levantara-se tonto de fome e adentrara o gabinete do chefão. O o'clock marcava, precisamente, duas horas da tarde.

Onélia Setúbal Rocha de Queiroga.

Escritora e Professora de Ciências Jurídicas
da Faculdade de Direito da UFPB.
Colunista do Caderno 2, página Cultura,
do jornal “ Correio da Paraíba”.

Histórias Orbícolas.
Páginas 41, 42 e 43.

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