um conto - uma crônica
Na verdade ela está sempre à nossa volta, ao redor do mundo, passeando em órbita pelo espaço, ora vista, ora oculta. Mas é nas noites em que as nuvens desfilam por fora do céu, que ela surge plena de si, vestida com a luz que o Sol lhe empresta, em focos que vêm de muito longe, do outro lado do planeta.
E foi assim que a Lua apareceu. Lá por trás do horizonte, com o mar à sua espera. E as ondas ao vê-la marulharam bem mais alto. Pareciam aplaudi-la, com o canto de espumas, a sorrir com sua chegada. Aos poucos foi subindo, reluzindo imponente. De repente era ela quem regia à orquestra desta noite em sinfonia, que ecoava pelo céu salpicado de estrelas a balar em seu louvor.
Há milênios que a Lua é capaz de inspirar sentimentos dos mais nobres como a paz e a harmonia, o amor e a poesia. Debussy pintou-lhe em música numa suíte encantadora. "Clair de Lune" a descreve com a mesma nitidez, que na noite sem penumbra, o Sol muito ao longe lhe dirige a atenção. Ao passar de cada dia ela segue com a galáxia seu caminho pelo cosmo. E a Terra vai aos poucos mordendo sua luz com a sombra que se insere entre si e o astro Rei. É aí que sua dança no Universos vira fases, como achamos de chamá-las. De minguante passa a nova, pouco mais volta a crescer. Pra de novo retornar, reluzente e inteira, com o brilho encantador que a muitos sugeriu a divina inspiração. A Sonata ao Luar que Beethoven escreveu, há dois séculos lá em Bonn, até hoje é tocada aos que sabem entender a pureza da harmonia de tão bela melodia. Aconselho a você, numa noite como esta, ver a lua desfilar ao som dessa sonata ou, quem sabe, da suíte requintada do francês, que ouvia em Renoir sua música a brotar.
Agora não dá mais para vê-la sobre o mar. Já subiu seguindo o céu, e prepara seu adeus, pois na linha do horizonte novamente descerá. Já é tarde, vou dormir. E na prece dessa noite, repousar o meu desejo de que a alma esteja atenta à beleza deste mar, em que o brilho já não há, pois a Lua já se foi...
Que ilusão assim pensar... Só porque não se vê mais. Imagine como a vida, ela não há de parar. Estou certo que amanhã, outra vez ela virá, e por cima deste mar voltará a me encantar. E a lição que ficará é pra nunca esquecer de que assim, como essa Lua, somos parte do Universo que pra sempre existirá, sob o Deus que nos criou.
Germano Romero é arquiteto e bacharel em Música.
Publicada no jornal Correio da Paraíba
Página Opinião
01/02/2013
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