segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Onaldo Queiroga - O Olho Da Noite





um conto-uma crônica

Era noite quando a Lua surgiu quebrando a escuridão e espalhando sua luz nas águas verdes do mar do Cabo Branco. Lua cheia, esplendorosa, nascendo lá no fim do horizonte, como se viesse de dentro do oceano, imensa e enigmática.

De posse da câmera fotográfica, comecei a capturar imagens daquela Lua. Foram inúmeras fotos, até que algumas nuvens ficaram entre nós. De repente, as nuvens foram se dissipando e a Lua ficou ali, posicionada entre elas, numa formação que parecia um olho, um olho da noite a observar o mar, a terra e o homem. Logo fiz a foto daquele instante. Lá do seu altar celestial, a Lua em formato de olho passou-me uma impressão contemplativa, e, ao mesmo tempo, de tristeza. Era como se ela tivesse percebido como as coisas haviam mudado no mundo Terra. Cabisbaixa, certamente procurou e não encontrou os seresteiros com seus violões, canções românticas, e, das janelas, o sorriso feliz de suas amadas. Ampliou o seu olhar e também não visualizou os namorados, de mãos dadas, a caminharem pelas calçadas tranquilas das praças e praias.

A Lua, sem dúvida, viu clarões velozes rasgando a noite, e logo percebeu que não eram de fogos de artifícios, mas sim decorrentes de armas de fogo, de projéteis que cortavam luminosamente o escuro noturno, pintando de vermelho a violência insana dos homens. Viu uma fumaça intensa espalhando-se pelo céu, e também logo observou que ela, a fumaça, não sinalizava a paz, mas a destruição decorrente de uma imensa poluição gerada pelas máquinas construídas para suprir a insaciável ganância humana. Viu o avanço da droga fazendo valer suas pedras de crack, a maconha, o ecstasy, a cocaína e a impiedosa merla. Viu crianças, jovens e adultos perdidos num trajeto que, na maioria das vezes, apresenta-se sem volta.

Nesse instante, as nuvens foram novamente cobrindo a Lua. Era como se o olho da noite estivesse se fechando de tanta dor e tristeza, ao ponto de uma leve neblina cair sobre nós, como se lágrimas fossem. A Lua ficou encoberta por alguns instantes, e a noite se fez escura. Logo depois, como num sopro divino, as nuvens foram se afastando, e, na amplidão da noite, ela surgiu novamente, como um imenso olho, com sua luz a anunciar esperança e fé em dias de paz, como se procurasse acordar a humanidade para os ensinamentos de Martin Luther King: “O que me assusta não são as ações e os gritos das pessoas más, mas a indiferença e o silêncio das pessoas boas. Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração e sorriso nos lábios. O que vale não é o quanto se vive...mas como se vive”.

A Lua sempre estará no céu para nos transmitir expectativas de um futuro melhor!

Onaldo Queiroga
onaldoqueiroga@oi.com.br

Recebido por e-mail do próprio autor.

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